sábado, 19 de abril de 2008

Comoções públicas


De volta ao esforço de análise da realidade que vivemos, tentando pensar alternativas humanas para os seres humanos (que as vezes nos esquecemos dessa nossa condição), focalizaremos o caso da menina que foi atirada pela janela. Desde já declaro não ser especialista na questão para apontar motivações do crime, maneiras que ele pode ter sido executado, requintes de crueldade e outros aspectos que deixarei para os mais capacitados. Nossas observações serão pontuais, sobre certos aspectos apenas, como a maneira da mídia abordar a questão, o grande público, o crime em si e algumas reflexões de natureza moral.


Todos estamos vivendo a maneira como os meios de comunicação estão tratando o assunto, com todo sensasionalismo que afeta (ou procura afetar) o discernimento do grande público. Uma cobertura de dias seguidos, com interrupções na programação habitual, para plantões jornalísticos que acompanham depoimentos, o recolhimento de opiniões dos populares a respeito do assunto e a mobilização destes para acompanhar o caso. Os pais podem ou não serem os responsáveis pelo crime. A Polícia aponta nessa direção. Boa parte da mídia (quando me refiro a mídia não quero encaixotar toda ela nesse movimento que acompanha de maneira sensasionalística o assunto) já os condenara.


Não é algo fácil de se ver, a morte de uma criança nas circunstâncias em que se deu. Seja de que maneira for, a morte de alguém causa comoção para os seres humanos que não renunciaram a sua condição de humanidade. Acho, no entanto, que todo esse apelo que o caso está tendo serve para certos setores da sociedade ventilarem idéias que gostam de defender, como a Pena de Morte... já viram quantas pessoas falam "eles devem morrer..." É uma idéia que, infelizmente, tem muito lastro na nossa sociedade, pouco acostumada a ver os mecanismos da Justiça atuarem de maneira eficaz. Quero lembrar que todos os dias morrem pessoas das maneiras mais aterradoras possíveis, e com isso, não estou querendo esvaziar a morte da menina nas condições em que se deu. Qual a repercussão das mortes diárias nas nossas vidas? Por que somente a morte desta nos comoveu? Os outros não nos merecem a piedade? Alguém lembra-se da menina Alana, morta com um tiro de fuzil no peito na época da morte do João Hélio? Até parece que a morte dela foi menos dramática que as demais... parece até que todos já tomaram um tiro de fuzil no peito, ou tiveram um filho atingido por um. Perguntem a um médico que trabalha numa Emergência de grande hospital como é isso.


Outras reflexões de natureza moral escreverei depois, em breve.

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