quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Parábola do Semeador


Naquele mesmo dia, tendo saído de casa, Jesus sentou-se à borda do mar; - em torno dele logo reuniu-se grande multidão de gente; pelo que entrou numa barca, onde sentou-se, permanecendo na margem todo o povo. – Disse então muitas coisas por parábolas, falando-lhes assim:
               Aquele que semeia saiu a semear; - e, semeando, uma parte da semente caiu ao longo do caminho e os pássaros do céu vieram e a comeram. – Outra parte caiu em lugares pedregosos onde não havia muita terra; as sementes logo brotaram, porque carecia de profundidade a terra onde haviam caído. – Mas, levantando-se, o sol as queimou e, como não tinham raízes, secaram. – Outra parte caiu entre espinheiros e estes, crescendo, as abafaram. – Outra, finalmente, caiu em terra boa e produziu frutos, dando algumas sementes cem por um, outras sessenta e outras trinta. – Ouça quem tem ouvidos de ouvir.
               Escutai, pois, vós outros a parábola do semeador. – Quem quer que escuta a palavra do reino e não lhe dá atenção, vem o espírito maligno e tira o que lhe fora semeado no coração. Esse é o que recebeu a semente ao longo do caminho. – Aquele que recebe a semente em meio das pedras é o que escuta a palavra e que a recebe com alegria no primeiro momento. – Mas, não tendo raízes, dura apenas algum tempo. Em sobrevindo reveses e perseguições por causa da palavra, tira ele daí motivo de escândalo e de queda. – Aquele que recebe a semente entre espinheiros é o que ouve a palavra; mas, em quem, logo, os cuidados deste século e a ilusão das riquezas abafam aquela palavra e a tornam infrutífera. – Aquele, porém, que recebe a semente em boa terra é o que escuta a palavra, que lhe presta atenção e em quem ela produz frutos, dando cem ou sessenta, ou trinta por um. (S. Mateus, 13: 1 a 9 e 18 a 23.)
           
            A parábola do semeador é encontrada em 3 evangelhos. Além do de Mateus, utilizado por Kardec, o de Marcos, ambos muito parecidos, ainda que no dele a narrativa esteja maior, e o de Lucas, que traz detalhes que destoam dos outros dois, ainda que seja o que traz a história de maneira mais sucinta. No de Lucas, ao referir-se às sementes que caíram na estrada, afirma que foram pisadas. Mais adiante, ao tratar das que caíram entre os espinhos, aponta que com ela (a semente) teriam crescido os espinhos.
            Jesus apresenta-nos, em linhas gerais, algumas condições da alma humana, diante do contato com a revelação divina, com a mensagem do Reino de Deus.  Diante da multiforme capacidade de entendimento das pessoas, ali presentes (ou as de nossos tempos), utiliza-se de parábolas para ministrar seus ensinamentos. Segundo Torres Pastorino[1], estas parábolas “são calcadas, de modo, geral, em fatos e situações conhecidas pelos ouvintes, colhidos da vida diária; dado que a maioria dos circunstantes era constituída de lavradores e pescadores, donas de casa e pequenos comerciantes, é dessas profissões que são tirados os exemplos.”
            Três grupos de sementes não dão resultados, mas a quarta parte dá muito fruto. Ainda segundo Pastorino,
Os terrenos montanhosos e pedregosos do norte da Galiléia, com atalhos batidos a atravessar os campos, com espinheiros e cardos vigorosos a brotar quase espontaneamente, sem que eles dispusessem de meios para total erradicação; com trechos em que a crosta de pedra é rasa, recoberta apenas por delgada camada de terra, oferecia ampla margem de experiência pessoal aos ouvintes para a compreensão da historieta.[2]
            O autor ainda aponta que, como em todas as parábolas, os dados não precisam ser exatos, podendo ser exagerados ou diminuídos, a fim de enfatizar aspectos do que se pretende ensinar. Segundo ele, “nenhum campo da Palestina (...) produz a cem por um.” [3] O normal do rendimento iria de quatro a dez sementes por um, sendo um ótimo resultado conseguir-se entre dez e vinte por um.
            Abstraia-se, na parábola, a “imprevidência” do semeador, que deixa cair as sementes em terrenos onde, sabidamente, não seriam propícios à plantação. O espírito do ensinamento é enfatizar a incapacidade de quem o recebe, supondo-se perfeita a capacidade do Semeador.
            Possivelmente a explicação que os discípulos receberam de Jesus tenha se dado em um momento de intimidade, depois de dissolvida a multidão, quem sabe, ao chegar em casa. “Por que lhes falas em parábolas”, dá a entender que o método já vinha sendo utilizado por Jesus em suas pregações.
            Segundo Pastorino, aos discípulos é dado conhecer os segredos do reino dos céus. Ele nota o emprego da palavra “tà mystéria”, que entre os gregos significaria a doutrina religiosa secreta ou oculta, revelada a iniciados.  Ainda seguindo os raciocínios deste autor, quando Jesus menciona o fato das pessoas
Verem (lerem) e não entenderem (o sentido profundo real) e de ouvirem e não perceberem (esse sentido), provém de que seu coração (sua mente) está enregelada (pela vaidade e pelo egoísmo); então, eles fecham os olhos e tapam os ouvidos (para não serem obrigados a aceitar a interpretação correta; e isso lhes é permitido), para que, vendo (lendo) com os olhos, e ouvindo com os ouvidos, não sucedam que entendam com o coração (a mente) e se voltem e eu os sare, porque a eles NÃO INTERESSA a cura (libertação) das coisas materiais do mundo, as quais estão apegados em profundidade.[4]
            Recordo-me de uma passagem narrada no Evangelho de João onde os discípulos afirmam: “Duro é este discurso, quem o pode ouvir.” [5] A mensagem cristã não é de facilidades, como muitas denominações protestantes às vezes apresentam. Jesus prometeu-nos alívio, não isenção das dores, não o “Pare de sofrer” apresentado por aí. “No mundo, tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” [6] Se Ele venceu, nós também o podemos. “Vós sois deuses” [7], podemos fazer o que Jesus fez, atingir o seu patamar, desde que nos empenhemos para tanto. Logicamente, Jesus tornou-se o que é num tempo que não temos condições de medir, mas não é, por isso, inatingível. Evidentemente, uma longuíssima série de reencarnações aguarda-nos, onde reescreveremos nossa história e cresceremos intelectual e moralmente. Não por acaso, os Espíritos Superiores apontaram-nos Jesus como guia e modelo em O Livro dos Espíritos.[8]
            Assim, acompanhando Pastorino, não há má intenção da parte da Divindade no sentido de estabelecer-nos um programa que não pudéssemos atingir. Existe a nossa má-vontade, por ignorância que, embora digamos na consciência atual que queremos nos converter, lá no fundo, no nosso mundo íntimo, não desejamos semelhante mudança. Ainda em O Livro dos Espíritos, na questão n° 909, quando Kardec pergunta “Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?” Ao que os Espíritos respondem: “Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços!”[9] Kardec não se dá por vencido e, para cercar a questão, questiona se não existiram paixões tão vivas e tão irresistíveis, que a vontade seria impotente para domá-las. Os Espíritos desenvolvem, então, o raciocínio:
“Há muitas pessoas que dizem: Quero, mas a vontade só lhes está nos lábios. Querem, porém muito satisfeitas ficam que não seja como “querem”. Quando o homem crê que não pode vencer as suas paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em consequência da sua inferioridade. Compreende a sua natureza espiritual aquele que as procura reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria.” [10]
            As parábolas utilizadas por Jesus, para Pastorino, são um sinal da misericórdia divina,
pois permite às criaturas que tenham tempo de ir evoluindo, e a cada nova encarnação possam ir aprofundando o sentido oculto das parábolas, conseguindo assim atingir a realidade total do ensino de Jesus. (...) um ensino que deveria ir sendo compreendido gradativamente pela humanidade, à proporção que fossem evoluindo os homens. [11]
            Deve-se ressaltar, no entanto, que os ensinamentos morais de Jesus foram dados abertamente. O amar ao próximo como a si mesmo é bem claro.
            Acompanho, agora, a interpretação de Pastorino para as diferentes realidades de pessoas, sugerida por Jesus, na Parábola do Semeador:
1º. A primeira categoria é a dos que estão presos às sensações e que portanto se deixam influir pelo mau (...) Por esses, que mais amam ao corpo e suas comodidades e confortos acima de tudo, a doutrina da Palavra não chega a ser nem sequer compreendida, pois é julgada “loucura”, sonho, tolice, etc. ... Eles se acham “à beira do caminho”, ou seja, à margem da espiritualidade (...) com espírito bem materializado.
2º. A segunda é dos que vivem presos a animalidade, e portanto com preponderância das emoções, e nesse setor se inclui a maioria esmagadora da humanidade. Deixam-se levar pelo gosto e desgosto, pelo prazer e desprazer, pela simpatia e antipatia, pelo amor e pelo ódio, pela alegria e pela dor, encontrando a estrada da vida eriçada de pedras e escolhos, que representam os carmas negativos, os resultados ruins de ações e pensamentos de vidas anteriores. Estes ouvem a doutrina (...) com alegria, mas quando sofrem os embates da própria vida, os sofrimentos e ingratidões (quando tropeçam nas pedras), se escandalizam (...) e arrepiam carreira. (...) ao primeiro revés, retrocedem amedrontados e, como disse Jesus, escandalizados, porque julgam que, uma vez na estrada certa, o sofrimento e as pedras do caminho DEVERIAM  ser retirados para que sua jornada fosse de rosas... Acham-se, então, COM DIREITO a certos privilégios... A raiz deles é pequena: qualquer contrariedade maior (...) é suficiente para afastá-los do espiritualismo.
3º. A terceira categoria é daqueles que já se encontram com o intelecto mais desenvolvido, e portanto apresentam certo domínio sobre as emoções, embora estas ainda tenham bastante influência nas decisões intelectivas. Ocorre, então, que vivem como entre “espinheiros”, que são constituídos pelos cuidados e “preocupações da vida”, pela “ilusão das riquezas”, pela “cobiça de tantas outras coisas” transitórias, que são verdadeiras ilusões. Estes ouvem e até gostam, chegam mesmo a compreender a doutrina (...) Mas NÃO PODEM fazê-las frutificar, porque estão muito OCUPADOS com suas atividades terrenas. (...) NÃO TENHO TEMPO...
4º. A quarta categoria é a dos que se iniciam na senda: ouviram a Palavra, aceitaram-na com amor, querem vivê-la. Para isso, buscam perceber a presença e a ação da individualidade. Começam a distinguir entre a realidade do Espírito (dando-lhe supremacia) e a ilusão da matéria (...) já compreendem a necessidade de dedicar algum tempo de sua vida às orações e meditações que visam à busca do Eu Interno. (...) embora pudessem, realmente, fazer um pouco mais.
5º. A quinta categoria compreende aqueles que já aprofundaram mais o espiritualismo, que já conseguem penetrar certos mistérios ou segredos do reino (...) Homens que superaram todo ilusionismo material e vivem na ânsia do Encontro Sublime (...) São os místicos (...) que já experimentaram a realidade do Espírito e dessa realidade tem lampejos seguros.
6º. Finalmente a sexta categoria é a daqueles que já obtiveram a união, ou melhor, a Unificação Total e permanente com o Cristo Interno, e portanto já se tornaram Cristificados, conseguindo a libertação plena.
            Aos primeiros, não dá para chamá-los de indiferentes. Podem ser indiferentes às questões morais, da alma, mas não o são quanto ao atendimento de suas paixões. Podemos dizer que são os “egoístas em si”. São os de estômago cheio, saciados por todas as formas, porém de almas vazias. “Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente torna-se mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes” [12], diria William Shakespeare a respeito dos egoístas. Em O Céu e o Inferno, de Kardec, no capítulo que trata dos Espíritos endurecidos, há o caso de Angèle, nulidade sobre a Terra. Na reunião onde dialogam com este Espírito, questionam-lhe: “E de que modo preenchestes a existência?” Ao que ela respondeu: “Divertindo-me em solteira e enfadando-me como mulher.” O guia do médium que recebeu a comunicação, chamado “Monod”, informa que
Ângela era uma dessas criaturas sem iniciativa, cuja existência é tão inútil a si como ao próximo. Amando apenas o prazer, incapaz de procurar no estudo, no cumprimento dos deveres domésticos e sociais as únicas satisfações do coração, que fazem o encanto da vida (...) ela não pôde empregar a juventude senão em distrações frívolas; e quando deveres mais sérios se lhe impuseram, já o mundo se lhe havia feito um vácuo, porque vazio também estava seu coração. Sem faltas graves, mas também sem méritos, ela fez a infelicidade do marido, comprometendo pela sua incúria e desleixo o futuro dos filhos. (...) Ficai bem certos de que não basta abster-vos de faltas: é preciso praticar as virtudes que lhe são opostas. [13]
            Angela não teve erros grosseiros, foi indiferente às questões sérias da vida, dando espaço para as futilidades que só atenderam a seus interesses particulares. Poderíamos lembrar-nos dos viciados, qualquer que seja o vício. A agressão a si mesmos é maior, com o pano de fundo de suas ações sendo o mesmo egoísmo.
            Podemos enxergar os da segunda categoria como aqueles que esperam da Providência benefícios aos quais não são merecedores, ainda que desejem ser trabalhadores de Jesus. Jesus, aliás, foi o maior de todos e o que recebeu de nós? A cruz...  Ele que não tinha erros a expiar... Nós os temos, e não devem se poucos.  Na tarefa cristã, como diz Emmanuel, Começar é fácil, continuar é difícil e chegar ao fim é crucificar-se. Entendamos que, uma vez vinculados ao trabalho de Jesus, o socorro às nossas necessidades reais se fará presente. Deus provê as aves do céu e os lírios dos campos, a nós também o fará. Entretanto, nossa estrada não será atapetada, como a Dele, bem como a daqueles que o amaram e seguiram não o foi.
            Os terceiros são os “muito ocupados” com as “questões práticas da vida”, que deixam de lado o essencial, pela escolha que fazem. Talvez pretendam dedicar-se a algum trabalho assistencial quando se aposentem numa situação de fartura, ou proponham-se a ajudar alguém quando reúnam possibilidades financeiras folgadas.  Certa vez
perguntaram ao Dalai Lama:
- O que mais te surpreende na Humanidade?
E ele respondeu:
- Os homens... Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido. [14]
            Quantos não conhecemos nestas condições? Quantos vimos passar pelo trabalho no bem e que, por estes motivos, ou bem semelhantes, vimos afastarem-se? E, provocativamente, para nós, quantas vezes flertamos com essa possibilidade? É para pensarmos.
            O quarto grupo são aqueles que tentam conciliar algum tempo de suas vidas às atividades enobrecedoras, que se dedicam, em algumas horas semanais, a alguma atividade no bem. Os trabalhos voluntários, em diferentes setores, estão aí. 
Segundo pesquisa da ONU, o número de voluntários no Brasil passou de 22 milhões, para 42 milhões após o Ano Internacional. Outro dado também chama atenção: uma pesquisa DataFolha revela que 83% dos brasileiros acham que o trabalho voluntário é muito importante para o país (...) [15]
            O quinto e o sexto grupos eu não classificarei. Direi nomes de algumas personalidades, exemplares para nós, segundo o meu entendimento. Gandhi, Martin Luther King Jr., Francisco Cândido Xavier e Madre Teresa de Calcutá. Eis que, em O Livro dos Espíritos, em sua pergunta 912 Kardec propõe: “Qual o meio mais eficiente de combater-se o predomínio da natureza corpórea?” E os Espíritos respondem: “Praticar a abnegação.” [16] De abnegação estes entendem, por isso a lembrança. Abnegação, segundo o Minidicionário Aurélio significa “desprendimento”. “Nunca quisemos que nos considerassem expectadores (...)” [17] afirmou Luther King ao escolher permanecer Montgomery, no sul dos Estados Unidos, onde o preconceito racial era violento, abrindo mão de ensinar em Boston.
Se alguém estiver perto de mim quando chegar meu dia, não desejo um grande funeral. E se alguém quiser falar de mim, que não seja muito. (...) Eu só quero que digam que Martin Luther King tratou de amar alguém. Sim, digam que eu era um tambor. Um tambor da justiça. Um tambor da paz. Um tambor da retidão. Tudo o mais não importa. (...) Só quero deixar atrás de mim uma existência comprometida. [18]
            Madre Teresa de Calcutá, quando entrega-se ao trabalho com os “mais pobres dentre os pobres” também encontra dificuldades. Aprende técnicas de enfermagem, durante quatro meses e aluga um barraco na favela atrás do convento onde passara anos. Começa seu trabalho ensinando o alfabeto bengali a cinco crianças. Com uma varinha, traçava as letras no chão. O calor na favela chegava aos 46°, com alta umidade do ar. Os ratos e baratas passeavam no chão de seu barraco. Na favela, percorria os barracos e procurava ser útil dentro de suas possibilidades.
A equipe da NBC tinha ido a Calcutá para entrevistá-la, além de documentar seu trabalho diário.
O entrevistador e o operador de câmera seguiam-lhe pela cidade, mesmo quando, como de hábito, ela parava para remexer em imensos focos de imundície. Madre Teresa sabia que, naqueles locais pútridos, freqüentados por cães vadios, ratos e ladrões à procura de algo para comer, continuamente eram também atirados os “excluídos” da humanidade: criaturas inocentes às quais era negada a dádiva da vida. E Madre Teresa salvou tantos deles, porque aqueles lugares assustadores eram sua meta habitual e obrigatória.
Ela arregaçava as mangas como faz frequentemente quando trabalha e punha-se a remexer, com suas pequenas mãos nodosas, aquela imundície nauseante. O operador de câmera e o entrevistador ao seu lado, incomodados, com máscaras no rosto para resguardar-se do mau cheiro e dos miasmas.
De repente, as mãos de Teresa agarraram algo. Seus olhos iluminaram-se. Da podridão, ela tirou um pequeno volume: o corpinho de um recém-nascido, sujo, ensangüentado, com os olhos fechados e o cordão umbilical ainda por cortar. Com rapidez, porém cuidadosa, lançou-se sobre aquele pequeno ser tentando fazer ressurgir a vida dentro dele. Sacudia-o, massageava-o com energia. Chegou a fazer-lhe respiração boca a boca, mas a criança não reagia, parecia mesmo no fim. “Talvez fosse melhor deixá-lo morrer”, disse o entrevistador. Madre Tereza lançou-lhe um olhar em chamas: “Não”, gritou-lhe, “ainda está vivo e tudo que é vivo é o nosso próximo, é Deus”. Com renovada energia, retomou sua tarefa desesperada e, depois de alguns instantes, a criança soltou um gemido. Ela apertou-a contra o peito gritando de alegria e a levou para casa. Estava salvo! Estava vivo! [19]
            Penso que, muitas vezes, guardamos alguns elementos das três primeiras categorias. Acredito que por enquanto estamos tentando estar na quarta categoria, começando no bem, cheios de elementos do nosso passado ainda presentes em nós. Penso que a classificação foi utilizada por Jesus porque, apesar de “misturarmos categorias”, uma delas se destaca em nós. Trabalhemos, portanto, para que o destaque seja sempre da quarta categoria em diante.

Parábola do Semeador – O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, itens 5 e 6. Apresentado no Grupo de Caridade Deus, Luz e Amor na Reunião Pública de 14/09/2010. 


[1] PASTORINO, Carlos Juliano Torres. Sabedoria do Evangelho, vol. 3. Rio de Janeiro: Sabedoria, 1964, p. 27.
[2] Idem, p. 28.
[3] Idem.
[4] Idem, p. 35.
[5] João, 6: 60.
[6] João 16: 33.
[7] João 10: 34.
[8] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 308.
[9] Idem, p. 418.
[10] Idem.
[11] PASTORINO, Carlos Juliano Torres. Op. cit., p. 36.
[12] SHAKSPEARE, Willian. http://www.pensador.info/tag/egoismo/
[13] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 1997. pág. 367.
[14] GYATSO, Tenzin (Dalai Lama). http://www.pensador.info/autor/Dalai_Lama/
[15] O trabalho voluntário no Brasil. http://favelacult.blogspot.com/2010/01/o-trabalho-voluntario-no-brasil-pos-o.html
[16] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 418.
[17] RENA, Lilí. Luther King, Peregrino da Liberdade. São Paulo: Paulinas, 1996, p. 23.
[18] Idem, p. 76-77.
[19] ALLEGRI, Renzo. Teresa dos Pobres, Conversando com a Madre de Calcutá. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 10-11.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Nosso Lar

Escrevo poucas horas depois de retornar do cinema, onde assisti a este filme. Emocionante! A história eu já havia lido há alguns anos atrás. Foi ótimo recordar. Deu vontade de novamente ler a obra, a mais vendida dos livros recebidos pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, uma das maiores antenas psíquicas ou, como prefiro, dos maiores médiuns do século XX.

Baseada num relato de impressões de um médico desencarnado no Rio de Janeiro na década de 1930, que prefere o anonimato, adotando o pseudônimo de André Luiz, Nosso Lar, o filme, começa alternando cenas onde seu personagem principal rememora seus dias no corpo de carne, enquanto se depara com as desagradáveis experiências, frutos do encontro que fazia com as consequências de suas atitudes. Depois de cansado daquela situação, quando recorda-se da figura de Deus, é socorrido e encaminhado á colônia espiritual que dá nome ao livro (e ao filme).

Em Nosso Lar, recupera-se da transição daquilo que Ernesto Bozzano chama de "crise da morte", que no caso dele durou 8 longos anos nas regiões do mundo espiritual chamada umbral, criação mental coletiva de todos aqueles que ali se reúnem. Mas... vocês acham mesmo que eu contaria o filme inteiro? Isso é apenas o aperitivo. Quem já leu identificará situações ou personagens que não aparecem em determinados momentos, mas isso, sem dúvida nenhuma, não altera a lógica do relato trazido no livro. 

Penso que uma das maiores motivações de André Luiz, ao escrever este livro, foi lançar um alerta a nós que estamos ainda mergulhados nas experiências redentoras do corpo físico, a fim de que aproveitemos ao máximo a oportunidade superior da reencarnação para crescermos moralmente e intelectualmente, promovendo o crescimento e a melhoria de todos que nos cercam, transformando a realidade do mundo para melhor. Aponta-nos a valorização dos bons sentimentos esquecidos pela maioria de nós, tais como boa vontade, paciência, perseverança, humildade e tolerância, tão necessários para uma boa convivência entre os homens que se dizem seres humanos. 

Nosso Lar, filme ou o livro, é um convite a renovação de atitudes para o bem. É um resgate daquilo que há de melhor na natureza humana: a vontade de ser útil, de construir a felicidade pessoal no momento que se trabalha pela felicidade de todos.