sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Natal


Natal - Reunião pública do Centro Espírita Pequenos Seareiros. Rio de Janeiro, 14 de Dezembro de 2010.

            Em 1914 inicia-se a Primeira Guerra Mundial. Os cenários, dos campos de batalha, lembravam o solo lunar, castigado pelos explosivos. Além disso, centenas de cadáveres permaneciam, muitas vezes, insepultos e, portanto, em estado de putrefação, o que tornava o ar irrespirável. As trincheiras, cavadas no chão, abrigavam aqueles combatentes do fogo adversário. Avançar posições era quase tarefa suicida. Levantar, distraidamente, poderia ser fatal. Alguns atiradores falavam que davam um “beijo de boa noite” nos adversários quando eles cometiam este descuido. A Europa fica arrasada, pela destruição material provocada, mas principalmente pela destruição moral, na saudade daqueles que deixaram o corpo físico vitimados pela violência dos campos de batalha. As estimativas do número de mortos ficam na casa dos milhões, variando de acordo com os estudiosos. Existe, no entanto, uma peculiaridade nesta guerra que gostaria de tratar: a trégua de Natal, que começou na véspera, ou no próprio dia de Natal, se estendendo por alguns dias. Em uma parte da frente de lutas, durou até março de 1915. Ela foi totalmente não-oficial e sem qualquer acordo prévio, um gesto espontâneo de boa vontade dos soldados que, até, contrariava a ordem de seus superiores hierárquicos. 
            Os conhecimentos que se tem a respeito do assunto são limitados às declarações dadas por testemunhas oculares. Na época, foi muito divulgada na Inglaterra e pouco menos na Alemanha. O governo britânico afirmava que se tratava de episódios isolados, ao passo que os da Alemanha e da França afirmavam que não havia acontecido, a despeito dos relatos de suas tropas.
            A maioria dos relatos é de encontros entre alemães e britânicos. Com os franceses foi mais difícil, uma vez que o país deles encontrava-se, então ocupado.
Em alguns pontos da frente, as tropas ouviam os soldados inimigos cantando cânticos de Natal e então começavam a “retaliar”, cantando também. Em outras ocasiões, gritos de “A Happy Christmas to you Englishmen!” eram abertamente lançados para as trincheiras britânicas, sendo cortesmente retribuídos. [1]
            Um correspondente de um jornal britânico (Daily Telegraph) escreveu que, em determinada parte da frente de combate, os alemães conseguiram passar um pedaço de bolo de chocolate para as trincheiras britânicas.
Junto do bolo veio uma carta pedindo o cessar-fogo para aquela noite, para que eles pudessem comemorar a ocasião e o aniversário do seu capitão. Os britânicos concordaram e enviaram tabaco como presente. Às 19:30 h, os soldados alemães se ergueram de sua trincheira e começaram a entoar cânticos, com cada canção recebendo aplausos de ambos os lados. Os alemães então conclamaram os britânicos a cantar também, mas um inglês ainda um tanto belicoso gritou: “Preferimos morrer a cantar, alemão!”, ao que um bem-humorado germânico respondeu: “Vocês podem nos matar se cantarem!” [2]
            Existem narrativas de que, soldados que na vida civil eram barbeiros, cortavam os cabelos dos soldados adversários. Conta-se, também, que num certo local um mágico, com auxiliares de ambas as nacionalidades, fazia seus números na “terra de ninguém”, onde se desenrolavam os combates. Existem referências de uma ceia de Natal, onde alemães e britânicos compartilharam um leitão assado. Menciona-se, até, que trocavam ferramentas entre si, a fim de repararem suas cercas de arame, das trincheiras!
            Graham Williams, soldado inglês, escreveu para sua irmã algumas conversas que teve com os alemães, nesta ocasião:
Ele me disse que tinha uma namorada em Londres e que a guerra havia interrompido seus planos de casamento. Eu lhe disse: ‘Não se preocupe. Nós derrotaremos vocês até a Páscoa e então você poderá voltar e casar com a garota’. Ele riu e então me perguntou se eu poderia mandar um cartão postal para ela e eu prometi que o faria.
Outro alemão (...) me mostrou uma foto de sua família em Munique. Sua irmã mais velha era linda e eu disse que poderia me encontrar com ela algum dia. Ele sorriu, disse que gostaria muito disso e deu-me o endereço de sua família.
Mesmo os que não conseguiam conversar podiam ainda trocar presentes - nossos cigarros pelos deles, nosso chá pelo seu café, nossa carne pela sua salsicha. Brasões de unidade e botões de uniforme eram trocados como souvenires (...) [3]
            Um dos episódios mais interessantes nestas tréguas eram as partidas de futebol, jogadas na “terra de ninguém”. Uma dessas partidas, onde os alemães ganharam por 3 a 2 foi interrompida por conta das ordens de um oficial superior alemão ficou sabendo e mandou interromper. Em uma ocasião, a partida terminou porque a bola bateu num obstáculo de arame farpado.
 
                            Fotografia mostrando soldados alemães se confraternizando no interior de trincheira britânica no Natal de 1914. 
            A necessidade de enterrar os mortos que estavam na “terra de ninguém” era outra motivação para as tréguas. Conta-se que em certo ponto da frente de combates, soldados de ambos os lados realizaram serviços fúnebres em conjunto, com todos lendo juntos o salmo 23: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará...”
            As tréguas geralmente terminavam da maneira que começavam. Por acordo mútuo. O Capitão Stockwell, do Royal Welsh Fusiliers contou assim o final de uma delas:
Às 8:30 h do dia 26, eu disparei três tiros para o ar, ergui uma bandeira com os dizeres “Merry Christmas” e subi da trincheira. Os alemães levantaram uma placa com os dizeres “Thank you” e o capitão deles apareceu no alto da trincheira. Nós nos saudamos e retornamos às nossas trincheiras. Em seguida, ele fez dois disparos para o ar. A guerra havia começado novamente. [4]
            O jovem soldado que escreveu para sua irmã guardou impressão interessante do encontro.
(...) depois de conhecer estes homens, me espanto em como nossos jornais haviam sido desonestos. Eles não eram os ‘bárbaros selvagens’ que nós havíamos lido tanto. Eles eram homens com casas e famílias, esperanças e medos, princípios e, sim, amor pelo seu país. Em outras palavras, homens como nós. (...)
Eu estava começando a voltar para a minha trincheira quando um alemão mais velho segurou meu braço e me disse: ‘Meu Deus! Por que não podemos ter paz para todos nós voltarmos para casa?’ Eu respondi: ‘Você tem que perguntar isso ao seu imperador’. Ele olhou para mim sério e disse: ‘Talvez, meu amigo. Mas também temos que perguntar aos nossos corações’. [5]
            Que data misteriosa e profunda essa! Como nos toca as fibras mais íntimas do coração! Que poder tem esse Homem, nascido numa manjedoura simples, entre animais e o povo! É ponto pacífico que muitos de nós entendemos esta data como sendo a oportunidade de trocar presentes. O comércio adora isso! “Já é Natal na Leader Magazine”, ouvimos isso, muitas vezes já no mês de Novembro! A mídia, de maneira geral, massifica a informação de que as pessoas estão comprando nas lojas de rua, nos shoppings, nos grandes centros comerciais. Crianças são entrevistadas, junto com seus pais, onde dizem o que esperam ganhar do Papai Noel, figura, para alguns mais velhos simpática. Quando eu era criança, tinha medo daquele homem enorme, vestido de vermelho, com um saco nas costas, com aquela barba desproporcional. Muita criança tem medo dele, como eu tinha. Agora, pode ser uma excelente opção de ganhos extras no fim do ano para aqueles senhores de mais de 50 anos, barbudos e um pouco acima do peso. Deve ser terrível suportar aquela roupa quentíssima. Aliás, este é outro aspecto de nosso Natal. Incorporamos elementos de outras culturas de maneira muito natural. As roupas de Papai Noel, as comidas e as bebidas que costumam vender nestas ocasiões são de clima frio, nada que se compare ao escaldante verão carioca. Mas o Natal não é dos convencionalismos. É de Jesus.
            Dessa maneira, entendo que, ao realizarmos enormes banquetes, onde a comilança predomina, aliada, muitas vezes, à bebedeira convencionalmente aceita (cerveja e vinho, para não falar dos destilados), estamos fugindo ao propósito mais elevado da comemoração - o nascimento de Jesus. Ele, que nasceu pobre, filho de pobres que não conseguiram um local para se hospedar na noite em que ele nasceu. Eis que, dentre os animais, no meio da gente simples do povo, Ele começa a sua missão. E quantos padecem privações, nesta data! As nossas mesas desperdiçando, muitos estômagos famintos... Muito luxo para rememorar o nascimento de um pobre que andou acompanhado de outros pobres. O nascimento de alguém que, hoje, seria considerado um excluído, no mundo. Será que haveria lugar para Jesus nascer no nosso mundo de hoje? Fica para refletir. Irmão X, numa bela mensagem do livro “Antologia Mediúnica do Natal” aponta, com muita sabedoria:
Quem sabe, Senhor, poderias voltar, consolidando a tua glória, como fizeste há quase vinte séculos?! Entretanto, não nos atrevemos ao convite direto. As estalagens do mundo estão ainda repletas de gente negociando bens transitórios e melhorando o inventário das posses exteriores. (...) Quase certo que não encontrarias lugar entre as criaturas. (...) que adiantaria o teu retorno se a estatística das coisas santas não oferece a menor garantia de vitória próxima? Como insistir pela tua volta pessoal e direta se na esfera dos homens ainda não tens lugar onde possas nascer, trabalhar e morrer?[6]
            Devo registrar que não sou contra, nem estou fazendo qualquer pregação contra a atitude de confraternizar. É uma prática sumamente saudável, que dá conta dos sentimentos de amizade, estima e afeto que sentimos pelas pessoas. Penso que muito do que vemos, nesta ocasião próxima ao Natal, se deve às influências de Jesus na nossa vida social. Penso que, apesar de todas as ressalvas que possamos levantar a respeito da atitude de muita gente sobre o Natal, existe, da parte da maioria das pessoas, muito boa vontade nesta época. Boa parte de nós procuramos reunirmo-nos com nossos amigos, conversarmos. O que chamo a atenção, de maneira negativa, é para a atitude com relação aos excessos, ao desperdício que muitas vezes acontece nestes dias. Comida para um batalhão, numa família de três, quatro pessoas. Bebedeira desenfreada, com episódios desagradáveis que o álcool provoca. Estou certo de que isso foge ao objetivo da data.
            Ainda no livro que citamos, encontramos uma história do Espírito Néio Lúcio que vai de encontro com o que dissemos a respeito da comilança. Um peru que, após conviver largo tempo numa família que possuía vastos conhecimentos evangélicos, aprendeu a transmitir os ensinamentos de Jesus aos outros animais, guardando, igualmente, fé nas promessas Dele.
O peru, muito confiante, assegurava que Jesus Cristo era o Salvador do Mundo, que viera alumiar o caminho de todos e que, por base de sua doutrina, colocara o amor das criaturas umas para com as outras, garantindo a fórmula de verdadeira felicidade na Terra. Dizia que todos os seres, para viverem tranqüilos e contentes, deveriam perdoar aos inimigos, desculpar os transviados e socorre-los.
As aves passaram a venerar o Evangelho; todavia, chegado o Natal do Mestre Divino, eis que alguns homens vieram aos lagos, galinheiros, currais e, depois de se referirem excessivamente ao amor que dedicavam a Jesus, laçaram frangos, patinhos e perus, matando-os ali mesmo, ante o assombro geral.[7]
            Evidente que houve lamentações e, aflitas, as aves rodearam o pregador e crivaram-no de perguntas dolorosas. “Como louvar um Senhor que aceitava tantas manifestações de sangue na festa do natalício? Como explicar tanta maldade por parte dos homens que se declaravam cristãos e operavam tanta matança?”[8] O pastor prometeu responder no dia seguinte, porque também achava-se cansado e oprimido, uma vez que sua esposa também fora vítima. Assim, na manhã de Natal, esclareceu a seus companheiros que a ordem de matar não partira de Jesus, que preferiu a morte a ter que justiçar e que deviam, por isso, continuar amando o Senhor e servindo-o, não sem esquecer da recomendação de perdoar setenta vezes sete vezes. Comparou estes homens aos falsos profetas, vestidos de ovelha, mas na verdade agindo como lobos devoradores e, por fim, recordou-lhes as bem-aventuranças prometidas àqueles que sofrem. Assim, confortadas, “as aves se recordaram de que o próprio Senhor, para alcançar a Ressurreição Gloriosa, aceitara a morte de sacrifício igual à delas.” [9] Dessa maneira, que verifiquemos o que está sendo mais importante na comemoração da data, a lembrança do nascimento Dele ou a comilança nervosa.
            Eis que se encontra outra imprecisão: quando, afinal de contas, Jesus nasceu? Terá sido mesmo no dia assinalado de nossa comemoração? O dia 25 de dezembro foi escolhido no século IV, coincidindo com o Solstício de Inverno (quando o hemisfério norte do planeta recebe menos sol) que era comemorado pelos romanos como o “Dia do Sol Invencível”, uma data onde o Sol era venerado. Mas dificilmente Jesus teria nascido nesta época. Era inverno e na região que hoje é o Estado de Israel, a estação era muito intensa. Alguém refugiado numa estrebaria, uma criança principalmente, não conseguiria sobreviver às baixas temperaturas. Além disso, o relato evangélico dá conta da presença de pastores que fazem a visita ao recém nascido, que não ficavam nos campos durante esta estação do ano. Já tive contato com algumas opiniões que dão conta de que o nascimento teria ocorrido entre os meses de abril e maio.
            Um autor pouco comentando entre os espíritas de hoje, porém, de artigos muito interessantes e profundos, chamado Pedro de Camargo, que utilizava o pseudônimo “Vinícius” tem reflexões bem oportunas sobre o Natal, que quero dividir com todos. “Eis que vos trago uma boa nova de grande alegria: na cidade de David acaba de vos nascer, hoje, o Salvador, que é Cristo, Senhor... Glória a Deus nas alturas, paz na Terra aos homens de boa vontade.”[10] Chama atenção para o “vos nascer”! Nasceu para mim. Um acontecimento de natureza particular. Para o autor, a obra do nazareno só tem valor fundamental quando individualizada. Vinícius entende que “a redenção, que é obra de educação, tem que partir da parte para o todo, do indivíduo para a coletividade, e não desta para aquele. A transformação social há de ser a soma das transformações pessoais. Por isso, cumpre individuar o Natal (...)”[11] Afirma o autor que o nosso momento é pessoal e específico. Enquanto esperarmos que o ambiente em torno de nós se modifique e nos proporcione condições de mudarmos a nossa realidade espiritual, perderemos tempo. O dia de iniciarmos a nossa obra pessoal de redenção é hoje, está no presente. Penso que é a hora que nos damos conta da necessidade de fazê-lo. Quando tomamos consciência de que a vida que levamos não nos serve mais, não nos preenche mais, eis que é chegado o momento de empreendermos os esforços necessários para a mudança. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, em sua segunda parte, indaga aos benfeitores espirituais:
Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?
“Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. As missões, porém, são mais ou menos gerais e importantes. O que cultiva a terra desempenha tão nobre missão, como o que governa, ou o que instrui. Tudo em a Natureza se encadeia. Ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, concorre, dessa forma, para a execução dos desígnios da Providência. Cada um tem neste mundo a sua missão, porque todos podem ter alguma utilidade.” [12]
            Chama-nos a atenção, assim, para a responsabilidade que nos cabe na transformação social. “Instruir os homens, auxiliar-lhes o progresso, melhorar-lhes as instituições” são tarefas que nos competem enquanto encarnados. Assim, não esperemos as condições materiais adequadas para o início de nossas atividades no bem. Criemos as situações onde possamos ser úteis. Quando o servidor encontra-se preparado, o serviço aparece. Vinícius continua em suas reflexões. O Natal, portanto, que nos deve interessar, é o que se dará em nós, pela nossa vontade.  “Só sabemos das coisas de Jesus por experiência própria. Só após ele haver nascido em nosso coração, é que chegamos a entendê-lo, assimilando, em espírito e verdade, o seu Verbo incomparável.”[13]  Em outra obra, do mesmo autor, intitulada “Em Torno do Mestre”, ele nos propõe algumas reflexões quanto ao papel de Jesus nas nossas vidas:
Que influência está exercendo em nós o seu nascimento? Que relação existe entre o natal de Jesus e a nossa vida no momento atual? Que veio Jesus fazer à Terra, na parte que nos toca? (...) Se o nascimento do Redentor não é ainda uma realidade em nós mesmos, influindo positivamente em nosso caráter, que importância pode ter no que nos diz respeito? [14]
            O nascimento do Jesus histórico, em última análise, não nos afeta pessoalmente. Só tem valor se tem relação conosco. Se isso representa, para nós, uma força capaz de modificar-nos as estruturas íntimas, como uma força viva atuando em nosso Espírito, então Jesus, efetivamente, nasceu para nós. Vinícius, ainda, nos brinda com uma página repleta de sensibilidade: “Cristo nasceu? Onde? Quando?” Para Paulo de Tarso, Jesus nasceu quando ele, intolerante e fanatizado por uma causa inglória, se viu envolvido naquela luz poderosa. “Dali por diante - ‘Já não sou eu mais quem vive, mas o Cristo é que vive em mim’.”[15] Para o apóstolo Pedro, Jesus nasceu no pátio do palácio de Pilatos quando o galo cantou, após ele ter negado o Mestre por três vezes. Dali por diante, não o vemos mais vacilante, como antes. Para Zaqueu, Jesus teria nascido em Jericó, quando ele estava em cima de uma árvore para o ver passar de longe e Ele o chamou, a fim de se hospedar em seu lar. Naquele dia a salvação entrou na sua casa. Para Dimas, Jesus teria nascido no topo do Calvário, quando a maldade humana julgava ter aniquilado Ele para sempre. Dali, Jesus dirigiu-lhe um olhar repleto de ternura e piedade (que nós não costumamos voltar aos criminosos), que lhe fez esquecer todas as amarguras deste mundo. Estes corações, dos exemplos utilizados por Vinícius, deixaram de ser como as hospedarias de Belém e acolheram Jesus, transformando-se numa manjedoura. Quando Jesus nasceu para nós? Como fazer com que Ele nasça em nossos corações? Vamos aproveitar o clima de fraternidade do momento em que vivemos. No Natal, Jesus está mais próximo da Terra, e no dia, na passagem, segundo Francisco Cândido Xavier, presente algumas horas, socorrendo os infelizes, ao lado daqueles que são os “mais pobres, humildes e perdidos.” [16] Aproveitar e fazer como aqueles soldados alemães e britânicos da Primeira Guerra Mundial que tentaram superar suas rivalidades, suas inferioridades, em nome do espírito de fraternidade que será o cimento das relações humanas. Tentar, um momento que seja. Para aqueles homens da guerra estou seguro que a experiência vivida foi marcante, ainda que eles tenham recomeçado os combates. Mas foram marcados por Jesus. Experienciaram que outro tipo de relações entre os seres é possível. Vamos, sim, tentarmos as pequenas realizações, os pequenos gestos, as pequenas atitudes na direção da fraternidade humana. Vamos dar algo de nós, muito além do dinheiro que tenhamos (ou não). Vamos dar atenção às pessoas. Muita gente tem fome de pão, mas existe muita fome de afeto, como diz Tereza de Calcutá. Meimei nos sugere:
Não importa se diga que cultivas a bondade somente hoje quando o Natal te deslumbra!... Comecemos a viver com Jesus, ainda que seja por algumas horas, de quando em quando, e aprenderemos, pouco a pouco, a estar com ele, em todos os instantes, tanto quanto ele permanece conosco, tornando diariamente ao nosso convívio e sustentando-nos para sempre. [17]
            Vamos, portanto, nos aclimatando ao bem. Adestrando-nos nele, a fim de que, aos poucos, deixemos de lado nossa bagagem ruim e formemos, em nós um patrimônio importante de boas realizações na Seara de Jesus. Assim, Jesus nascerá para nós e assim teremos um verdadeiro Natal cristão.


[1] THEODORO, Reinaldo V. A Trégua de Natal. Disponível em: http://www.clubesomnium.org/arquivos/militaria/historia/Tregua_de_Natal.pdf Última consulta em 3 de dezembro de 2010.
[2] Idem, p. 2.
[3] Idem, p. 3.
[4] Idem, p. 6.
[5] Idem, p. 4.
[6] XAVIER, Francisco Cândido. Antologia Mediúnica do Natal. FEB, Rio de Janeiro, 1998, p. 35 - 36.
[7] Idem, p. 105.
[8] Idem.
[9] Idem, p. 106.
[10] VINÍCIUS. Na Seara do Mestre. FEB, Rio de Janeiro, 1951, p. 24.
[11] Idem, p. 25.
[12] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB, Rio de Janeiro, 1995, p. 285.
[13] VINÍCIUS. Na Seara do Mestre. FEB, Rio de Janeiro, 1951, p. 28.
[14] VINÍCIUS. Em Torno do Mestre. FEB, Rio de Janeiro, 1939, p. 189.
[15] Idem, p. 190.
[16] Aqui é o estrado para teus pés,
Que repousam aqui, onde vivem os mais pobres
Mais humildes e perdidos.
Quando tento inclinar-me diante de ti,
A minha reverencia não consegue alcançar
A profundidade onde teus pés repousavam,
Entre os mais pobres, mais humildes e perdidos.
O orgulho nunca pode aproximar-se desse lugar
Onde caminhas com a roupa do miserável
Entre os mais pobres humildes e perdidos.
O meu coração jamais pode encontrar
O caminho onde fazes companhia ao que não tem companheiro,
Entre os mais pobres, humildes e pedidos.
TAGORE, Rabindranath. Poema. Disponível em: http://www.peregrinosdapaz.ufpa.br/pensadores/poema07.pdf Última pesquisa em 3 de dezembro de 2010.

[17] XAVIER. Francisco Cândido. Op. cit., p. 25.