quinta-feira, 4 de março de 2010

Andorinhas - Marcus Viana

Reflexões da hora que passa

Navegando pela internet, lendo notícias difíceis envolvendo a política, onde os interesses pessoais estão, na grande maioria das vezes, acima dos interesses coletivos, me irritava com certos acontecimentos recentes sobre Organizações Sociais na cidade do Rio de Janeiro quando tive vontade de escrever estes apontamentos. São reflexões esparsas, notas breves mesmo. Não temos a receita da felicidade, do contrário, não nos abalaríamos tanto com semelhante realidade. Mas vamos lá, tentar alguma coisa que nos desafogue e sirva aos demais.

Enquanto mergulhados neste estado de coisas, situações mil, problemas diversos, encontramo-nos na hora certa, no momento certo, com as criaturas certas. Toda oportunidade pode ser de levantamento moral, de conduta um pouco melhor, condizente com aquilo que defendemos como proposta de vida, no nosso caso pessoal, o Cristianismo entendido pela proposta espírita. Certa vez, numa palestra, o orador teve a oportunidade de mencionar que não somos os missionários do quilômetro e, sim, o do milímetro. Comovemo-nos com os Espíritos exemplares que vivem, com as forças que lhes são possíveis, a mensagem de transformação da humanidade. E não andam distantes de nós. Nem todos desencarnaram. Muitos, seguramente, estão aos nossos lados, com suor na fronte, problemas angustiantes na cabeça, assim como nós. Recordo-me dos exemplos de personalidades citadas nas obras de Chico Xavier, trazidas pelos diversos espíritos. Chama-me a atenção para o fato deles analisarem as situações com que se defrontavam à luz dos princípios novos que esposavam. "Faria assim, mas agora, como encontrei Jesus, não me cabe isso. Ele faria diferente." Pensamentos dessa natureza lhes povoavam as mentes e, com decisão, lutando contra suas dificuldades morais, buscavam vencer-se. Eis um roteiro importante para nós.

Algo que tem feito parte de minhas reflexões há algum tempo é a "humanidade" dessas pessoas. Temos uma tendência esquisita de os considerar luminares, diferentes, afastados de nós pelas suas grandezas morais. Há uma mania perigosa de santificarmos quem não é santo, nem se declara como tal. Ainda uma vez Chico Xavier. Noto que muita gente o exalta, pelas qualidades morais que possuía. Entretanto, sempre que lhe surgia ocasião, referia-se à sua pequenez, as suas dificuldades internas, por ele identificadas, que ainda sentia necessidade de vencer. Penso que quando retiramos a humanidade dessas pessoas corremos alguns riscos. Somos intolerantes, ou ficamos muito confusos quando identificamos algum deslise, natural pela condição humana (sujeito em contrução, não espírito puro). Outra consequência: "Ora, eu não sou fulano, não consigo fazer isso ou aquilo." Quando colocamos nestes termos a questão, estamos cavando um "fosso psicológico" (nossa!) que nos impede de termos atitudes dignas daqueles que admiramos. 

Gandhi já teve oportunidade de nos propor que sejamos a mudança que desejamos no mundo. Pensando a questão da política problemática e do político inescrupuloso, devemos, antes verificarmos em que medida estes são o reflexo da sociedade que os elege. Não poderia ser diferente. O discurso que vence é o que nos agradou, é o que nos identificamos de alguma forma. Acompanhar, cobrar, protestar (sério, isso mesmo!), dentro dos parâmetros do modo de vida que elegemos para nós.

Termino citando um verso sublime, na versão de Marcus Viana, de um homem gigante que conhecia muito os seres viventes: "Senhor, faz de mim um instrumento de vossa paz..."

Ave, Cristo!

Uma das introduções mais felizes que já lí de um livro. Ave, Cristo, psicografia de Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Emmanuel. Segue:

Hoje, como outrora, na organização social em decadência, Jesus avança no mundo, restaurando a esperança e a fraternidade, para que o santuário do amor seja reconstituído em seus legítimos fundamentos.

Por mais se desenfreie a tormenta, Cristo pacifica.

Por mais negreje a sombra, Cristo ilumina.

Por mais se desmande a força, Cristo reina.

A obra do Senhor, porém, roga recursos na concretização da paz, pede combustível para a luz e reclama boa vontade na orientação para o bem.

A idéia divina requisita braços humanos.

A bênção do Céu exige recipientes na Terra.

O Espiritismo, que atualmente revive o apostolado redentor do Evangelho, em suas tarefas de reconstrução, clama por almas valorosas no sacrifício de si mesmas para estender-se, vitorioso.

Há chamamentos do Senhor em toda a parte.

Enquanto a perturbação se alastra, envolvente, e enquanto a ignorância e o egoísmo conluiados erguem trincheiras de incompreensão e discórdia entre os homens, quebram-se as fronteiras do Além, para que as vozes inolvidáveis dos vivos da eternidade se expressem, consoladoras e convincentes, proclamando a imortalidade soberana e a necessidade do Divino Escultor em nossos corações, a fim de que possamos atingir a nossa fulgurante destinação na vida imperecível.

Alinhando pois, as reminiscências deste livro, não nos propomos romancear, fazer literatura de ficção, mas sim trazer aos nossos companheiros do Cristianismo redivivo, na seara espírita, breve página da história sublime dos pioneiros de nossa fé.

Que o exemplo dos filhos do Evangelho, nos tempos pós-apostólicos, nos inspire hoje a simplicidade e o trabalho, a confiança e o amor, com que sabiam abdicar de si próprios, em serviço do Divino Mestre! que saibamos, quanto eles, transformar espinhos em flores e pedras em pães, nas tarefas que o Alto depositou em nossas mãos!...

Hoje, como ontem, Jesus prescinde das nossas guerrilhas de palavras, das nossas tempestades de opinião, do nosso fanatismo sectário e do nosso exibicionismo nas obras de casca sedutora e miolo enfermiço.

O Excelso Benfeitor, acima de tudo, espera de nossa vida o coração, o caráter, a conduta, a atitude, o exemplo e o serviço pessoal incessante, únicos recursos com que poderemos garantir a eficiência de nossa cooperação, em companhia dele, na edificação do Reino de Deus.

Suplicando-lhe, assim, nos ampare o ideal renovador, nos caminhos de árdua ascensão que nos cabe trilhar, repetimos com os nossos veneráveis instrutores dos primeiros séculos da Boa Nova:

— Ave, Cristo! os que aspiram à glória de servir em teu nome te glorificam e saúdam!



EMMANUEL



Pedro Leopoldo, 18 de abril de 1953.