terça-feira, 25 de abril de 2017

As provas de riqueza e de miséria

Palestra apresentada no Grupo de Caridade Deus, Luz e Amor em 28 de Março de 2017.

(O Livro dos Espíritos, perguntas 814 a 816)
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel de Barros, “O Bicho”.


No dia 16 de Abril de 1994, o Jornal Folha de São Paulo, a partir de denúncia feita pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, publicou uma reportagem muito triste. Próximo a uma favela de Olinda, havia um lixão onde eram descartados, dentre outras coisas, lixo hospitalar. Uma catadora chamada Leonildes, então com 65 anos afirmou que assou no óleo e comeu com cuscuz um seio humano encontrado pelo seu filho Adilson, então com 39 anos, em meio aos detritos. “Não tinha o que comer e comi isso mesmo”[1]. Comeram porque passavam fome. “Com fome entra tudo. Passei um bocado de dia sem saber o que era almoço”[2]. A pastora Simea Meldrum acreditava, a partir de suas conversas com catadores, que a prática fosse comum entre eles, ainda que todos se resguardassem em admitir. Enquanto a reportagem do jornal se encontrava aí, flagraram um caminhão de lixo despejando sua carga, que era vasculhada por crianças. Uma menina, chamada Ivanilda, então com 11 anos, encontrou um pedaço de pão e o comeu. A mãe dela, chamada Solange, achou a atitude normal. “A gente come o que acha aí. Pega peixe, roupa, galinha, o que tiver (...) A gente tem que viver, né?”[3] O educador Paulo Freire, visitando o local e refletindo à respeito da situação que encontrara, diz que na favela “cedo se aprende que só a custo de muita teimosia se consegue tecer a vida com sua quase ausência – ou negação –, com carência, com ameaça, com desespero, com ofensa e dor”[4]. Os fatos a que me referi ocorreram a mais de vinte anos, mas a fome e a miséria não deixaram de ser realidades muito presentes no mundo em que vivemos e, mesmo, no cotidiano de nossa cidade que se pretende maravilhosa.

O conhecido médico brasileiro Dráuzio Varella publicou, em 18 de Março deste ano, também na Folha de São Paulo, um artigo onde afirma que viver na pobreza coloca em risco o desenvolvimento do cérebro das crianças. De acordo com o grupo de pesquisa da professora Kimberly Noble, da Universidade de Columbia, trabalhando neste campo há quinze anos, “as crianças das famílias mais pobres levaram desvantagem nos testes de linguagem e memória e nas capacidades de autocontrole e concentração”[5]. Ainda segundo ele, o estudo da professora coincide com o de outros grupos que notaram “alterações anatômicas em áreas do cérebro envolvidas na cognição, entre as quais uma diminuição de volume do hipocampo, estrutura essencial para a formação das memórias”[6]. Dráuzio Varella afirma que o cérebro é o órgão que mais consome energia no corpo físico. A maior parte das calorias ingeridas pelas crianças é gasta por ele. As diarreias e infecções parasitárias da infância interferem no equilíbrio energético do seu corpo, “uma vez que prejudicam a absorção de nutrientes e obrigam o organismo a investir energia na reparação dos tecidos lesados e na mobilização do sistema imunológico, para localizar e atacar os germes invasores”[7]. Aos três anos, o cérebro da criança já atingiu 80% do tamanho do de um adulto. Dos dezoito meses aos quatro anos de vida, as partes do cérebro infantil que estão amadurecendo em velocidade máxima, podem ressentir-se da falta de nutrientes para seu pleno desenvolvimento. O desenvolvimento infantil também sofre abalos por ambientes domésticos conturbados. Ou seja: alimentando-se mal e vivendo num ambiente de negação da dignidade humana, as crianças pobres terão seu desenvolvimento cognitivo prejudicado.

Agora some-se à isso a realidade cotidiana de ter que despertar antes do galo cantar para trabalhar. A de ter que enfrentar o transporte público de péssima qualidade lotado, onde o trabalhador perde, pelo menos, a depender de onde more, algo em torno de uma hora e meia por dia indo e voltando. Somadas às oito horas de trabalho, são onze horas fora de casa para receber, na maioria das vezes, um salário mínimo de R$: 937,00 quando o DIEESE calculou o salário mínimo necessário para o trabalhador em R$: 3.658,72[8]. Quem recebe salário mínimo não pode colocar o filho em escola particular e nem contratar plano de saúde para a própria família. Depende, assim, da estrutural e intencional má qualidade dos serviços públicos. E estamos falando daqueles que tem um emprego. Imagine quem não tem! Não por acaso, quando analisamos o perfil socioeconômico da população carcerária do país – a quarta do mundo! – verificamos que 55% têm entre 18 e 29 anos; 61,6% são negros e 75,08 têm até o ensino fundamental incompleto[9]. Já deu pra ver que não são ricos, né?

No outro extremo temos aqueles muito ricos. A ONG britânica Oxfam divulgou, em Janeiro de 2017, que OITO PESSOAS NO PLANETA possuem tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população mundial[10]. Quanto seria essa metade mundial? 3,6 bilhões de seres humanos[11]. Como enriquecem desse jeito? Como essa desigualdade social existe? Sonegando impostos e reduzindo salários de seus funcionários para aumentar os rendimentos dos acionistas de suas empresas. Encabeçando a lista temos Bill Gates, fundador da Microsoft, que é detentor de uma fortuna de US$: 75 bilhões ou, aproximadamente, R$: 233 bilhões[12]. Nos EUA, a renda dos 50% mais pobres foi congelada nos últimos 30 anos, enquanto que a do 1% mais rico aumentou 300%![13] No Vietnã, o homem mais rico do país ganha, em um dia, mais do que a pessoa mais pobre em 10 anos! Em 2015, as 10 maiores empresas do mundo obtiveram faturamento superior à receita total dos Governos de 180 países. Essas empresas usam seu poder financeiro para garantir que a legislação e a política, nacionais e internacionais, sejam feitas sob medida para proteger seus interesses e aumentar seus lucros. As isenções fiscais, que quebraram o Governo do Estado do Rio de Janeiro, são bons exemplos[14].



O historiador Eric Hobsbawm no seu livro “A Era dos Impérios”, que trata dos últimos 20 anos do século XIX até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914, diz que mansões e casas de campos “eram destinadas a demonstrar os recursos e o prestígio de um membro da elite dirigente aos outros membros e às classes inferiores, bem como a organizar o jogo de influências e domínio”[15]. Ou seja, serviam para demonstrar status e poder para seus pares. Podemos lembrar, também, de Andrew Carnegie, que nasceu pobre, filho de tecelão, que ficou milionário e chegou a doar US$: 350 milhões, sem que isso afetasse seu estilo de vida. Essas doações suavizavam, retrospectivamente, perante o público, “os contornos desses homens recordados por seus operários e rivais de negócios como ferozes predadores”[16].

Segundo um estudo da Organização das Nações Unidas – ONU – de 2015, para erradicarmos a fome de maneira sustentável do mundo até o ano de 2030 seriam necessários US$: 267 bilhões por ano para investimentos em áreas rurais e urbanas e em proteção social. Isso representaria US$: 160,00 por ano por pessoa vivendo em extrema pobreza, por um período de 15 anos[17].  Estamos em Março de 2017 e, neste momento, o mundo encontra-se em sua pior crise humanitária em 70 anos. Até Julho deste ano, mais de 20 milhões de pessoas correm sério risco de morrer de fome em países da África e do Oriente Médio por causa da guerra e da seca[18]. De acordo com o diretor de assuntos humanitários da ONU, seria necessário um aporte imediato de US$: 4,4 bilhões para enfrentar o problema.

Parece muito dinheiro, não é? Sem dúvida alguma que sim, não é pouco. No entanto, comparando-se com as despesas militares dos países que mais gastam com armas no mundo, percebemos que o compromisso dos governantes mundiais tem sido com a morte, ao invés da vida. O orçamento de defesa dos EUA em 2016 foi de US$: 581 bilhões; A Rússia gastou US$: 47 bilhões; A China US$: 156 bilhões; A Índia US$: 40 bilhões; A França US$: 35 bilhões; O Reino Unido US$: 55 bilhões; O Japão US$: 40 bilhões; A Turquia US$: 18 bilhões e, por fim, a Alemanha gastou US$: 36 bilhões. Quanto gastou o Brasil? US$: 32 bilhões[19]. Somando-se as despesas militares destes onze países, temos US$: 1.040 trilhão (um trilhão e quarenta bilhões de dólares). Em 4 anos, dava para acabar com a fome no mundo.



Allan Kardec, na questão 814 de “O Livro dos Espíritos” indaga às Entidades Superiores:

Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria?
Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência.” [20]

Somos Espíritos encarnados vivendo experiências específicas para o nosso crescimento moral e intelectual. O momento e situação em que nos encontramos no presente faculta-nos retirar, daí, lições preciosas para nosso desenvolvimento. Através das experiências nas diferentes classes sociais, encontramos material para crescermos espiritualmente porque as situações de pobreza e riqueza colocam-nos situações únicas das quais temos que nos sair bem. A vida dos catadores Leonildes e Adilson, na favela de Olinda (é possível que já estejam desencarnados), retirando do lixo o sustento de suas vidas, o alimento para o corpo, é diferente da de Bill Gates ou da de Andrew Carnegie. A expectativa de vida dos mais pobres é menor. As oportunidades de acesso à cultura são menores, mais limitadas. A manteiga que, eventualmente, conseguiam passar num pão, para eles não era o essencial. O que matava a fome era o pão. Ou os restos humanos que encontravam. O tratamento dispensado à pessoas com melhor condição financeira, onde elas se encontrem – nem precisa ser um milionário – é totalmente diferente daquele dispensado aos mais pobres. O rico, ou de classe média alta, costuma ser paparicado aonde chega. O pobre é visto como potencial suspeito de cometer roubo ou visto como um preguiçoso vagabundo.

Os Espíritos que estão em condições de exercerem seu livre-arbítrio, elegem o gênero de provas que terão pela frente ao longo de suas vidas. Há Espíritos, no entanto, que são pouco maduros ou que retornam ao Mundo Espiritual em más condições de equilíbrio. Nestes casos, Espíritos Superiores organizam, para eles, suas novas encarnações. O fato de eleger o gênero de provas não quer dizer que as menores coisas já estão programadas para acontecer-nos. Dizem-nos os Espíritos que “as particularidades correm por conta da posição em que vos achais; são, muitas vezes, consequências das nossas ações”[21]. O Espírito sabe que “escolhendo tal caminho, terá que sustentar lutas de determinada espécie; sabe, portanto, de que natureza serão as vicissitudes que se lhe depararão, mas ignora se se verificará este ou aquele êxito”[22].

 Na segunda parte de “O Livro dos Espíritos”, em seu sexto capítulo – Da vida espírita – encontramos um subtema chamado “Escolha das provas”. Allan Kardec assim pergunta aos Espíritos Superiores:

264. Que é o que dirige o Espírito na escolha das provas que queira sofrer?
“Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outros desenvolvem; muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contato com o vício.” [23]

Dessa forma, o Espírito que tem condições de avaliar sua situação com algum grau de equilíbrio no Mundo Espiritual leva em consideração, na escolha de suas provas, os erros cometidos, bem como aquilo que ele considera que pode ajuda-lo a evoluir mais depressa. Através da pobreza ou da miséria, pela coragem que pode desenvolver para encarar as situações limitadoras que ela coloca. Em sendo pobre, não pode dar-se ao luxo de gastar descontroladamente porque, do contrário, corre o risco de faltar-lhe recursos para a manutenção da própria vida, bem como a de seus familiares. Tem que desenvolver hábitos mais controlados, aprender a “enxugar suas necessidades”, avaliando o grau de importância de cada uma delas. Com isso, educa-se ou reeduca-se – se foi, no passado de outras encarnações alguém que dissipou seus bens de maneira irresponsável – para a utilização dos recursos que a Providência Divina coloca-lhe nas mãos, uma vez que vivemos num mundo que vem sendo dilapidado pela nossa voracidade em criar necessidades fictícias e facilidades perturbadoras do futuro humano (vide nossa produção de resíduos). Por outro lado, aquele que tem a chance de utilizar-se da riqueza material, tem diante de si uma prova difícil, uma vez que pode comprometer-se a si mesmo, bem como a um conjunto de pessoas maior, de acordo com o tamanho de suas possibilidades materiais. Notem que os Espíritos Superiores ligaram a questão da riqueza à do poder. Não por acaso, como já pudemos notar, o dinheiro é usado pelas grandes corporações, pelas grandes empresas, para fazer com que políticos criem leis e governem de acordo com seus interesses de classe. Vide o recente escândalo da Lava Jato, onde partidos políticos recebem vultosos recursos materiais de grandes construtoras, quase sempre dinheiro não declarado à Receita Federal, para as campanhas eleitorais. Tão logo os políticos que patrocinaram fossem eleitos, esperavam a “contrapartida” em obras públicas bem caras, muitas das quais se tornaram verdadeiros elefantes brancos como as da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas do Rio de Janeiro (2016). Além disso, aquele que dispõe de riqueza tem mais coisas a desapegar-se quando está para desencarnar. Viveu toda uma vida de sensações, de luxo material, de diferentes tipos de prazeres materiais. Gozou do conforto do seu jatinho, do seu iate, dos empregados que dispunha, de suas mansões e de seus carros. Não pode levar nada disso quando desencarna. E isso para eles é tão doloroso que, muitos deles, no passado, enterravam-se cercado de bens materiais e, também, até de seus empregados e familiares, que eram mortos e postos em suas sepulturas[24].

Na questão 815, quando Allan Kardec indaga se a desgraça ou a riqueza seriam as provas mais terríveis, os Espíritos recordam-nos que “a miséria provoca as queixas contra a Providência”.[25] As experiências dolorosas daqueles que vivem as privações materiais dão-lhe a sensação falsa de estarem abandonado por Deus, de que ninguém se importa com eles. No entanto, Deus vela por todos nós, sem exceção. Ao nosso lado, sustentando-nos o equilíbrio, Espíritos que torcem por nós amparam-nos as necessidades emocionais e, sim, muitas vezes materiais. Quantos de nós, que em algum momento de nossas vidas, vivendo dificuldades financeiras, fomos “salvos” pela ajuda de alguém ou de uma situação que não esperávamos? Allan Kardec, em seu tempo, foi escritor famoso. Sua gramática foi utilizada na França por largos anos. Entretanto, não tinha situação material remediada. Trabalhou bastante para sustentar-se. Num livro que foi publicado após sua desencarnação chamado “Obras Póstumas”, encontramos um diálogo dele com o Espírito de Verdade, que orientava sua tarefa de divulgação do Espiritismo.

P. — Disseste que serás para mim um guia, que me ajudará e protegerá. Compreendo essa proteção e o seu objetivo, dentro de certa ordem de coisas; mas, poderias dizer-me se essa proteção também alcança as coisas materiais da vida?
R. — Nesse mundo, a vida material é muito de ter-se em conta; não te ajudar a viver seria não te amar.[26]

         Assim, os Espíritos Superiores não descuidam de nós no capítulo da vida material. Certamente, não receberemos o supérfluo, mas o necessário para vivermos não nos faltará. Velaram por Kardec, velam por nós. Pessoas há, no entanto, que, neste momento, como vimos, estão passando fome. Não foram esquecidos por Deus. Com o sofrimento que experimentam, resgatam suas culpas do passado, uma vez que “o fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem”[27]. Resignação aqui significando a aceitação daquilo que não pode ser modificado por aquele que sofre. Em “O Evangelho S. Espiritismo” lemos que

Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a consequência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros[28]

Ou seja, recebemos, de volta, para aprendermos, aquilo que fizemos os outros sofrerem. Não se quer dizer com isso que a exploração do homem pelo homem e a consequente miséria daí decorrente – lembrem-se que a desigualdade das condições sociais é obra do homem e não de Deus, conforme a resposta à questão 806 de “O Livro dos Espíritos” – é necessária para que os que sofrem resgatem suas culpas. Pelo contrário. Aqueles que tem possibilidades materiais poderiam, se não estivessem, em sua maioria, preocupados em aumentar mais suas riquezas, trabalhar em benefício das coletividades. Já seria excelente se não explorassem seus subordinados. Não por acaso, na questão 816 Kardec indaga:

Estando o rico sujeito a maiores tentações, também não dispõe, por outro lado, de mais meios de fazer o bem?
“Mas, é justamente o que nem sempre faz. Torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas necessidades aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para si unicamente.” [29] 

         Podem fazer o bem, mas “sentam-se” em cima do talento, preservando-o apenas para si, sem compartirem-no com seus semelhantes. Onde pretendem chegar com tamanho egoísmo? Nesse galope, só alcançarão o Mundo Espiritual em condição de muito sofrimento. Tem a ilusão de deter o próprio destino em suas mãos. Fazem-nos lembrar do rico insensato da parábola de Jesus. Estando em meio à multidão, um homem pediu a Jesus que dissesse ao irmão dele que repartisse a herança com ele. Depois de questionar quem o teria encarregado de julgar ou dividir os bens dos homens, o Nazareno, voltando-se para o povo disse:

Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens. E contou-lhes uma parábola: A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita.’ Então resolveu: ‘Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?’ Assim, acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus. [30]

         Para encerrar, recordamo-nos de uma mensagem de “O Evangelho S. Espiritismo” assinada por “Um Espírito protetor”, que está no capítulo “Não se pode servir a Deus e a Mamon”. O autor espiritual diz que se impressiona com a preocupação incessante que muita gente coloca no atendimento do bem estar material, ao passo que pouca importância liga ao aperfeiçoamento moral. Afirma que muita gente escraviza-se a trabalhos penosos “pelo amor imoderado da riqueza e dos gozos que ela proporciona”[31], gabando-se por viver uma vida de sacrifícios e mérito “como se trabalhassem para os outros e não para si mesmas!”[32]Diz, ainda, que eles pensaram, apenas, em seus corpos. “Por ele, que morre”, desprezastes o vosso Espírito, que viverá sempre” [33]. Esquecemo-nos que somos Espíritos vivendo experiências materiais num corpo físico. Confundimo-nos com nossos corpos, que são vestes transitórias. A certeza da vida futura modifica-nos a maneira de encarar a vida e o “combo” de situações desafiadoras que ela nos coloca. Que possamos encarar, então, as provas que elegemos – de riqueza ou de pobreza – como oportunidades para nosso crescimento espiritual dentro de uma experiência temporária no corpo físico realizando a maior soma de bem que pudermos e procurando educar-nos, a fim de deixarmos para trás os velhos hábitos que nos prendem ao círculo de reencarnações inferiores.




[1] “Indigentes comem carne humana em Olinda”. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/4/16/brasil/53.html Último acesso em 27 de Março de 2017.
[2] “‘Comi porque tinha fome’”. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/4/16/brasil/54.html Último acesso em 27 de Março de 2017.
[3] “Indigentes comem carne humana em Olinda”. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/4/16/brasil/53.html Último acesso em 27 de Março de 2017.   
[4] FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 74.
[5] VARELLA, Dráuzio. “A pobreza e o cérebro das crianças”. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2017/03/1867417-a-pobreza-e-o-cerebro-das-criancas.shtml#_=_ Último acesso em 27 de Março de 2017.
[6] Idem.
[7] Idem.
[8] “Pesquisa nacional da cesta básica de alimentos”. Disponível em: http://www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html Último acesso em 27 de Março de 2017.
[9] “População carcerária brasileira chega a mais de 622 mil detentos”. Disponível em: http://www.justica.gov.br/noticias/populacao-carceraria-brasileira-chega-a-mais-de-622-mil-detentos Último acesso em 27 de Março de 2017.
[10] “Oito pessoas concentram mesma riqueza que a metade mais pobre da população mundial, diz ONG britânica”. Disponível em:  http://g1.globo.com/economia/noticia/oxfam-critica-concentracao-indecente-de-riqueza-no-mundo.ghtml Último acesso em 27 de Março de 2017.
[11] “Oito homens possuem a mesma riqueza que a metade mais pobre da humanidade”. Disponível em:  http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/13/economia/1484311487_191821.html Último acesso em 27 de Março de 2017.
[12] Dólar custando R$:3,11 em 24 de Março de 2017 as 12h49. “Câmbio”. Disponível em: https://economia.uol.com.br/cotacoes/cambio/dolar-comercial-estados-unidos/ Último acesso em 27 de Março de 2017.
[13] “Oito homens possuem a mesma riqueza que a metade mais pobre da humanidade”. Disponível em:  http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/13/economia/1484311487_191821.html Último acesso em 27 de Março de 2017.  
[14] “Isenções fiscais do governo do Rio para empresas somam R$ 138 bi, diz relatório do TCE”. Disponível em:  http://blogs.oglobo.globo.com/na-base-dos-dados/post/isencoes-fiscais-do-governo-do-rio-para-empresas-somam-r-138-bi-diz-relatorio-do-tce.html Último acesso em 27 de Março de 2017.
[15] HOBSBAWM, Eric. A Era dos Impérios. São Paulo: Paz e Terra, 2015, p. 260.
[16]Idem, p. 291.
[17] “ONU: US$ 267 bilhões por ano adicionais para acabar com a fome até 2030”. Disponível em: http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/07/onu-us-267-bilhoes-por-ano-adicionais-para-acabar-com-a-fome-ate-2030/#.WNm_7G_yvcc Último acesso em 27 de Março de 2017.
[18] Os países são: Iêmem, Sudão do Sul, Somália e Nigéria. “Por que o mundo vive sua pior crise de fome em 70 anos”. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/03/13/Por-que-o-mundo-vive-sua-pior-crise-de-fome-em-70-anos Último acesso em 27 de Março de 2017.
[19] “Estas são as maiores potências militares do mundo em 2016”. Disponível em: http://exame.abril.com.br/mundo/estas-sao-as-maiores-potencias-militares-do-mundo-em-2016/ Último acesso em 27 de Março de 2017.
[20] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 379. Grifos meus.
[21] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, op. cit., p. 171.
[22] Idem, p. 172.
[23] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, op. cit., p. 174.
[24] O filme “Confúcio, a batalha pelo império” ilustra bem isso.
[25] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, op. cit., p. 379.
[26] KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 276.
[27] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2004, p. 123.
[28] Idem, p. 115.
[29] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, op. cit., p. 379. Grifos meus.
[30] BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. São Paulo: Edições Paulinas, 1990, p. 1331. Lucas, 12: 14-21. Bíblia.
[31] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. op. cit., p. 311.
[32] Idem.
[33] Idem.

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