Por difíceis que sejam, os tempos de gripe suína podem servir-nos para pensarmos um pouco acerca da vida. O homem, campeão na inteligência, capaz de produzir façanhas nunca antes sonhadas, se encontra as voltas com um problema que parecia esquecido no tempo: uma doença a nível mundial, que não faz escolhas de classes sociais. Evidentemente que os mais pobres são mais afetados, uma vez que têm à sua disposição os sobrecarregados e maltratados hospitais públicos, além das dificuldades de manterem uma alimentação mais equilibrada, o que fortalece o organismo de qualquer um.
Penso que a situação de evitar lugares fechados, por exemplo, pode ser uma oportunidade de buscar-se outras alternativas de entretenimento, que não sejam shoppings, cinemas, teatros... Os passeios ao ar livre, as conversas nas praças, surgem como opções bastante humanas, que nos retiram da artificialidade de certos espaços. Pode ser um tempo para reeditarmos tipos de relações humanas um pouco desdenhadas.
A fragilidade da vida coloca-se como questão também. Impressiona, de maneira assustadora, o galopante avanço desta doença e seus trágicos efeitos, especificamente nas gestantes, com casos de óbitos em 12 horas. Cada vez mais vemos as pessoas, dentro de suas possibilidades, precavendo-se com máscaras e cuidados de higiene. Na correria que vivíamos, esta realidade que defrontamos desacelera-nos. Quantos de nós se interessaram para os sofrimentos dos que estão enfermos ou até que tiveram casos de desencarnação de parentes em suas famílias. Hoje, no meu local de trabalho, mostraram-me uma senhora cuja irmã, recém casada, não resistiu à enfermidade. A expressão de dor estava no semblante da mulher como um ferimento doloroso.
Queria que, nestes tempos, fôssemos mais solidários as dores que surgem ao nosso lado, sejam elas de que natureza forem. Gostaria que pensássemos na nossa própria fragilidade, a fim de redimensionarmos a vida, enxugando-a de parafernálias que, em última análise, não nos acrescentam nada enquanto seres humanos que não desejam perder sua humanidade. As dores coletivas são momentos onde as pessoas, reunidas em torno de uma causa comum, podem, perfeitamente, agirem em prol dos demais. Se não temos a coragem de visitar ou ajudar, mais diretamente, os doentes do corpo, que ao menos lhes direcionemos bons pensamentos, preces para seu conforto e restabelecimento. Vamos acender a luz que pudermos, que esteja ao nosso alcance. O somatório das luzes pode ser impressionante!
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