sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Lenhadores de Sonhos



            Quer descobrir um lugar mágico em sua casa para ter ideias? “Vá tomar banho!” Não! Não estou lhe ofendendo. O chuveiro é inspirador. Poderia falar muita coisa sobre isso mas, hoje, li uma excelente reflexão sobre isso do amigo Marco Antonio, pelo Facebook. Mas... Por que estou falando isso? Depois de ler um comentário/desabafo da amiga Carol Mallagoli Engel, também no mesmo site, me veio à cabeça uma expressão que tomei contato nesse ambiente virtual: “Lenhador de Sonhos”. E fiquei pensando, enquanto tomava banho, como seria essa figura.

            O Lenhador de Sonhos, para mim, é alguém que já teve o seu sonho cortado por outro Lenhador de Sonhos. Penso, também, que ele só age com nosso consentimento. É como um vampiro, que só entra na casa de alguém se convidado.

Mas, caberia perguntar, por que alguns se deixam vitimar por ele? Porque desacreditaram de si mesmo. Porque desacreditaram nos valores morais que fazem com que a vida seja melhor vivida, uma vez que estes são capazes de promover uma atmosfera de harmonia. De que valores falo? Na , em Deus, na vida ou no futuro; no Amor, fraterno, filial, afetivo, pátrio... De todo tipo; na Caridade, não naquela falsa caridade que deseja demarcar hierarquias entre as pessoas. Refiro-me à Caridade que irmana as pessoas, que enxerga no próximo como um ser humano que precisa ser respeitado. São valores religiosos ou filosófico-morais. São a essência das relações humanas sadias.

            Por que o Lenhador de Sonhos age assim? Por que se esforçam em colocar por terra os Sonhos das pessoas? Na pergunta 465 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec trava um diálogo com os Espíritos que pode nos ajudar a elucidar a questão. Ele indaga, aos Espíritos Superiores, com que objetivo os Espíritos Inferiores tentam induzir-nos ao mal. E eles respondem que estes o fazem para que soframos como eles sofrem. Mas isso lhes diminuiria o sofrimento, torna Kardec a perguntar, ao que as Entidades Luminosas dizem que não, e que estes Espíritos Inferiores fazem isso porque não podem suportar que haja seres mais felizes que eles. SENTEM INVEJA. O Lenhador de Sonhos, que já cedeu ao arrastamento de outro Lenhador, busca derrubar os Sonhos dos outros por inveja. Não deseja que os outros alcancem o que ele não conseguiu: os Sonhos concretizados. Em algum momento de sua trajetória, frustrou-se de tal forma a lidar com algum fracasso que desistiu. Ao desistir, cedeu aos imperativos de algum Lenhador de Sonhos. Enlouqueceu com a dor? Quem sabe...

            “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”, disse Fernando Pessoa. Somos, por natureza, sonhadores. Sonhamos sonhos realizáveis ou utópicos. Mas mesmo aqueles de natureza utópicas tem sua função. A utopia é como o horizonte. Andamos dez passos, ele se afasta outro tanto de nós. Caminhamos vinte e ele, contudo, não deixa de se afastar. Nunca alcançamos. Mas serve para isso. NOS FAZ ANDAR, nos lembra Eduardo Galeano.

            Os Lenhadores de Sonho, no entanto, não estão mortos por dentro. No mundo íntimo, que tomam como porão, existe uma luz, existe algo que faz com que não percam a essência humana. Por muito que sufoquem, por muitas camadas de maldade que depositem em cima, existe algo de bom. Amam. Alguma coisa, mas amam. Todos os grandes Lenhadores de Sonhos da História, que espalharam maldades e sofrimentos pelo mundo, amavam alguém ou alguma coisa. E é esse amor, essência divina e humana, porque presente em todos, pode ser a redenção dos Lenhadores de Sonhos. Lá no fundo, parafraseando o Teatro Mágico, eles sentem que são um tanto bem maior que os maus sentimentos em que estão mergulhados. Se acreditarem, podem mudar. É por admitir, em mim, a possibilidade de ter sido, também, um Lenhador de Sonho, traço essas linhas. É por enxergar traços dessa bondade, por não negar a humanidade dos Lenhadores de Sonho, que escrevo essas linhas. É para retribuir a fé que alguém já teve em mim.