Das Ocupações e Missões dos Espíritos – O Livro dos Espíritos, perguntas 567 a 575. Rio de Janeiro, 16 de Novembro de 2010.
O Espírito André Luiz encontrava-se, segundo seu relato, numa região espiritual inferior em companhia do instrutor Gúbio e de Elói. Ao aproximar-se da janela do local onde estavam alojados, observou o que se desenrolava na via pública.
Os diálogos e entendimentos surpreendiam. Quase todos se referiam à esfera carnal.
Questões minunciosas e pequeninas da vida particular eram analisadas com inequívoco interesse; contudo, as notas dominantes caíam no desequilíbrio sentimental e nas emoções primárias da experiência física.[1]
Na questão 567 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga se costumam os Espíritos imiscuir-se em nossos prazeres e ocupações, ao que os Espíritos da Codificação respondem: “Os Espíritos vulgares, como dizes, costumam. Esses vos rodeiam constantemente e com freqüência tomam parte muito ativa no que fazeis, de conformidade com suas naturezas. (...)” [2] Kardec, em seus comentários posteriores, acrescenta que os Espíritos se ocupam com as coisas deste mundo de conformidade com seu estágio evolutivo em que se achem. Os Espíritos Superiores podem analisá-las em suas particularidades na medida em que isso sirva ao progresso. Somente os Espíritos Inferiores “ligam a essas coisas uma importância relativa às reminiscências que ainda conservam e às idéias materiais que ainda não se extinguiram neles.” [3]
Morrer é fenômeno biológico. Desencarnar é fenômeno psicológico. Podemos ir, aos poucos, em vida na carne, desencarnando, quando, através de nossos esforços, nos acostumamos com a realidade de sermos Espíritos Imortais, quando, portanto, colocamos o interesse da construção do Reino de Deus em nós acima dos interesses materiais exagerados pelo nosso egoísmo. Morrer sem desencarnar traz dificuldades aos Espíritos. A órbita de seus interesses permanecerá sendo a vida material e todas as suas peculiaridades. Os avarentos se preocuparão com seus bens, o vaidoso com sua beleza ou fama, os viciados com o atendimento de seus vícios, os promotores da guerra se preocuparão com o estímulo à violência... A fronteira da morte não descaracteriza o sujeito. Acorda como viveu, sendo exatamente quem é depois do transe biológico. Quem em vida acostumou-se a determinado clima mental, circulará no ambiente que criou para si mesmo. André Luiz, no livro “Libertação”, nos chama a atenção para um dos centros de interesse dos Espíritos congregados àquela região de sofrimentos. “Desequilíbrios sentimentais”, o que me fez lembrar as novelas que costumamos acompanhar pela TV. Qual a nota preponderante delas? As questões amorosas, nem sempre saudáveis do ponto de vista moral e, por isso, psicológico. Trocas de casais, traições, tentativas de conquistas amorosas a todo custo... As novelas me parecem, neste aspecto, muito mal inspiradas... De onde será que os autores retiram essas idéias ou melhor, com quem eles compartilham a autoria da trama? As relações humanas, no campo do sentimento são, em última análise, banalizadas, como se trocar de par fosse como trocar de chinelos, esquecendo-se que estamos tratando com seres humanos que merecem ser tratados com dignidade humana e não como objetos. Os Espíritos inferiores, portanto, onde estejam, ao nosso lado, ou nos locais onde se reúnem, estão com a cabeça aqui, no mundo material, porque não “desencarnaram”, não libertaram-se das preocupações relativas a vida material. Já os Espíritos Superiores, ou aqueles bem intencionados, observam essas particularidades com o objetivo de promoverem o progresso. Estudam essas situações, compartilham, nos ambientes de reuniões mediúnicas, com os encarnados, essas vivências, preparam trabalhadores no mundo espiritual para atuarem no auxílio a essas entidades em dificuldades. O que são as obras de André Luiz senão um estudo permanente dos aspectos da realidade do mundo espiritual próximo à Terra?
Em “Nos Domínios da Mediunidade”, no capítulo “Forças Viciadas”, relata-nos algumas observações quando dirigia-se a uma instituição espírita.
Dois guardas arrastavam, de restaurante barato, um homem maduro em deploráveis condições de embriaguez.
O mísero esperneava e proferia palavras rudes, protestando, protestando...
- Observem o nosso infeliz irmão! – determinou o orientador. (...)
Achava-se o pobre amigo abraçado por uma entidade da sombra, qual se um polvo estranho o absorvesse.
Num átimo, reparamos que a bebedeira alcançava os dois, porquanto se justapunham completamente um ao outro, exibindo as mesmas perturbações.[4]
O instrutor Áulus convida André Luiz e Hilário, que os acompanhava, a entrarem no ambiente. Relata-nos o autor espiritual que os Espíritos ali presentes sorviam as baforadas de cigarro arremessadas ao ar, ainda aquecidas pelos pulmões dos fumantes encarnados, encontrando nisso alegria e alimento. Outras aspiravam o hálito de alcoólatras impenitentes. Ainda naquele local, em outro ambiente, havia um homem jovem, numa mesa com conhaque, que fumava demais, acompanhado de uma entidade de aspecto ruim. O homem escrevia... Das mãos da entidade, localizada na cabeça do encarnado, escorriam substâncias escuras e pastosas. Eram co-autores daquilo que o encarnado escrevia. Desejava o rapaz, dado à malícia, a respeito de suposta participação de uma jovem num crime. A entidade desencarnada objetivava deprimir a vida moral da moça, a fim de trazê-la para o ambiente viciado em que se encontrava. Um homem dado a malícia encontrou o parceiro que procurava no mundo espiritual. O desencarnado, querendo fazer sofrer uma pessoa, encontra nele veículo de suas possibilidades. Certamente são parceiros, a moça e o desencarnado, de vivências passadas, até nas regiões inferiores do mundo espiritual. Reencontrando-a encarnada, bênção de que ainda não dispõe, procura arrastá-la para a desordem emocional, onde encontraria clima para vampirizar-lhe as energias.
Eis a importância, para nós, de uma conduta reta, pautada no bem. Mostramos aos desencarnados que nos acompanharam nos banquetes do mal no passado que estamos procurando ser diferentes, com atitudes renovadas no bem. Evidentemente que lhes sofremos as influenciações, mas à medida que consolidemo-nos no bem, notarão que estamos transformados. Podem seguir-nos na renovação, o que para nós seria excelente, por conquistarmos alguém pelo exemplo, ou simplesmente afastarem-se de nós, que não mais lhes compartilhamos o modo de encarar a vida.
Eis que, ao saírem do ambiente onde encontrava-se o jornalista comprometido com a malícia, na via pública novamente, André Luiz e seus companheiros vêem passar uma ambulância. À frente, no lado do motorista, um homem de cabelos grisalhos, simpático e preocupado. Junto dele, abraçando-o com naturalidade e doçura, uma entidade em roupagem lirial lhe envolvia a cabeça em vibrações suaves e calmantes de prateada luz. Um médico em alguma tarefa de socorro.
Deve ser, antes de tudo, um profissional humanitário e generoso que por seus hábitos de ajudar ao próximo se fez credor do auxílio que recebe. (...) Para acomodar-se tão harmoniosamente com a entidade que o assiste, precisa possuir uma boa consciência e um coração que irradie paz e fraternidade.[5]
Eis que, neste caso, temos uma entidade com relativa evolução ocupada com as questões da vida material, no que diz respeito ao auxílio aos doentes, acompanhando um homem que se credenciou à sua companhia, pelas atitudes nobres que assumiu diante da vida.
Na questão 568, Kardec indaga se os Espíritos, que tem missão a cumprir, o fazem na erraticidade ou encarnados e os Espíritos respondem-lhe que podem ter em ambos os estados. Na 569, desenvolvendo a anterior, pergunta: “Em que consistem as missões de que podem ser encarregados os Espíritos errantes?” Obtendo, como resposta dos Espíritos: “São tão variadas que impossível fora descrevê-las. Muitas há mesmo que não podeis compreender. Os Espíritos executam as vontades de Deus e não vos é dado penetrar-lhe todos os desígnios.” [6]
Kardec assinala, nas suas observações, que as missões dos Espíritos tem sempre por objeto o bem. São incumbidos de
auxiliar o progresso da Humanidade, dos povos ou dos indivíduos (...) e de velar pela execução de determinadas coisas. Alguns desempenham missões mais restritas e, de certo modo, pessoais ou inteiramente locais (...) há tantos gêneros de missões quantas as espécies de interesses a resguardar (...). [7]
As obras do Espírito André Luiz são repletas de situações deste gênero, onde os Espíritos desempenham variadas missões, de acordo com os interesses com os quais se identificam. Penso que àqueles ligados, na Terra, às profissões relacionadas à educação, desde que se identifiquem com esta, buscarão, no mundo espiritual, desempenhar tarefas relacionadas ao esclarecimento das criaturas. Aqueles voltados à área médica podem dirigir seus esforços para o atendimento da saúde humana, ou mesmo o reequilíbrio do Espírito, naquilo que diz respeito ao perispírito, que deve ser objeto de estudos no mundo espiritual. Podem, por fim, desempenhar tarefa que lhes seja “estranha” quando encarnados, num esforço por recomeçar nas atitudes do bem que não escolhe, necessariamente, um campo específico, mas que aproveita as oportunidades de trabalho que a vida, no mundo espiritual lhe oferece. Evidentemente que, com o tempo, direcionará seus esforços para aquilo com que se identifique mais, desenvolvendo-se neste campo. Em “Missionários da Luz”, no capítulo “Socorro espiritual”, André Luiz conta-nos o caso de uma senhora desencarnada que buscou auxílio para que seu filho, moribundo, pudesse permanecer mais algum tempo encarnado, a fim de solucionar problemas que ainda lhe estavam pendentes na vida material.
Com a saúde fragilizada, recolheu-se ao leito de sono com preocupações e angústias tais que suas criações mentais se tornaram, para ele, em verdadeira tortura. A mãe notou que corria risco de derrame cerebral. André Luiz assinala que o sujeito, espiritualmente, movimentava-se com dificuldades junto ao corpo, quase que completamente exteriorizada. O instrutor espiritual Alexandre toca-lhe o cérebro perispiritual e pede-lhe que se mantenha vigilante, sugerindo-lhe que deseje retomar o corpo. A seguir, aplicou-lhe passes no corpo material. Depois disso, convocou, mentalmente, o grupo de serviço do irmão Francisco. Concentrou-se e eis que um minuto depois chega ao local onde se encontravam oito entidades. Alexandre solicitou-lhes que trouxessem algum encarnado desdobrado pelo sono, a fim de lhes aproveitar as energias para o homem em risco de desencarnação. Enquanto o chefe da caravana retirou-se para buscá-lo, os demais permaneceram em auxílio magnético através da prece. Eis como Alexandre apresenta o grupo recém chegado:
Temos aqui o grupo do irmão Francisco. Trata-se de uma das inumeráveis turmas de serviço que nos prestam cooperação. Muitos companheiros consagram-se aos trabalhos dessa natureza, mormente à noite, quando as nossas atividades de auxílio podem ser mais intensas. [8]
Assim que o encarnado que fora buscado pelo irmão Francisco chegou, Alexandre solicitou-lhe que colocasse suas mãos na cabeça do corpo do moribundo. Depois disso, esforçou-se por transferir energias do doador desdobrado pelo sono ao enfermo. À medida que o instrutor movimentava suas mãos no cérebro do doente, notava-se que melhorava. Sua forma perispiritual reunia-se devagarinho ao corpo, integrando-se uma com a outra, como se estivessem em reajustamento célula por célula. O encarnado ganhou uma moratória de cinco meses no máximo, devendo vigiar os pensamentos para que não lhe afetasse a estrutura orgânica. André Luiz conversa, depois do ocorrido, com o irmão Francisco, que o esclarece.
Nossa pequena expedição (...) é uma das inumeráveis turmas de socorro que colaboram nos círculos da Crosta. Somos milhares de servidores, nessas condições, ligados a diversas regiões espirituais mais elevadas. (...) O nosso (grupo) destina-se ao reconforto de doentes graves e agonizantes. (...) Quase ninguém no círculo de nossos irmãos encarnados conhece a extensão de nossas tarefas de socorro. (...) São muitos os irmãos afins (...) que se reúnem, depois da morte do corpo, em tarefas de amparo fraternal, quando já alcançaram os primeiros degraus da escada de purificação. (...) sabemos que, muitas vezes, é possível efetuar realizações deveras sublimes, de natureza espiritual, em poucos dias, nessas circunstâncias, depois de largos anos de atividades inúteis. No leito da morte, as criaturas são mais humanas e mais dóceis. Dir-se-ia que a moléstia intransigente enfraquece os instintos mais baixos, atenua as labaredas mais vivas das paixões inferiores, desanimaliza a alma. (...) Nunca observou a paciência inesperada de doentes graves, a calma de certos enfermos incuráveis e a suprema conformação da maioria dos moribundos? Muitas vezes, semelhantes edificações, incompreensíveis para os encarnados que os cercam, constituem o fruto do esforço de nossos grupos itinerantes de socorro. [9]
Na pergunta 570, Kardec pergunta se “os Espíritos percebem sempre os desígnios que lhes competem desempenhar”, ao que os Espíritos Superiores lhe respondem que não, uma vez que muitos existem que podem ser instrumentos cegos, havendo, claro, outros que sabem com que objetivo atuam. Parece-nos estranho que alguns realizem atividades sem consciência do que estejam fazendo. Ainda em “O Livro dos Espíritos” existe um item intitulado “Ação dos Espíritos nos fenômenos da natureza”, onde verificamos que eles tem papel ativo nos fenômenos naturais. De acordo com a tarefa que desempenhem, podem ser de ordem mais elevada ou não. As tarefas mais “materiais” estão a cargo dos Espíritos mais materializados, ao passo que as atividades de comando são exercidas por entidades mais elevadas. Na pergunta 540 do livro que analisamos, Kardec deseja saber se estes Espíritos, que lidam com os fenômenos da natureza, operam com conhecimento de causa, usando o livre-arbítrio, ou apenas por efeito de instintivo impulso. Obtém resposta semelhante, ou seja, uns operam com conhecimento daquilo que fazem, outros não. Divaldo Franco, numa entrevista que concedeu à Revista Espírita Allan Kardec identifica-os como os elementais, das tradições exotéricas e espiritualistas.
Na pergunta 571, Kardec indaga se somente os Espíritos elevados desempenham missões, ao que lhe informam que “A importância das missões corresponde às capacidades e à elevação do Espírito. O estafeta que leva um telegrama ao seu destinatário desempenha uma perfeita missão, se bem que diversa da de um general.” [10] Certa vez, numa palestra, ouvi que nós, na condição evolutiva em que nos encontramos, somos os missionários do milímetro, ao passo que aqueles Espíritos luminares que admiramos são os missionários do quilômetro... Mas somos missionários, porque detemos certa tarefa, por singela que seja. O muito só nos será confiado se dermos conta do pouco. Humberto Hoden conta-nos que Gandhi fora procurado, um dia, por dois homens, interessados em iniciarem-se nos mistérios do mundo espiritual. Gandhi aceitou e para começar a iniciação espiritual, encarregou os dois candidatos de varrerem o pátio coberto de folhas secas. Os dois encararam o desafio. Quando concluído, solicitou-lhes que descascassem batatas e cortassem verduras, além de racharem a lenha para o fogo do almoço. Os caras fizeram. Na parte da tarde, mandou-lhes com latas de creolina, às aldeias da vizinhança para fazerem a limpeza nas privadas e fossas, como ele mesmo, Gandhi, costumava fazer. Os candidatos passaram a tarde fazendo isso. Ao voltarem do serviço, nada espiritual, indagaram-se: “Será que Gandhi se esqueceu do nosso pedido de iniciação espiritual?” De noite, tomaram uma refeição frugal, ao lado dos demais habitantes da colônia. No dia seguinte, as mesmas atividades com pequenas variações. Os dois estavam cada vez mais decepcionados. Esperavam, quem sabe, que fossem convidados para uma sala misteriosa, onde visualizassem algum ritual secreto... No terceiro dia, um deles teve a coragem de perguntar à Gandhi:
- Mestre, quando começa a nossa iniciação?
- Já começou – respondeu Gandhi.
- E quando terminará?
- Terminará quando vocês fizerem de boa vontade o que até agora fizeram de má vontade.
Os dois candidatos à suprema espiritualidade sumiram. [11]
Na pergunta 572 de “O Livro dos Espíritos”, Kardec deseja saber se a missão de um Espírito lhe é imposta, ou se ele a solicita, ao que os Espíritos informam-lhe que ele a pede e se sente, naturalmente feliz se a consegue. Determinada missão, pode, no entanto, ser solicitada por diversos Espíritos, o que acontece com alguma freqüência, mas nem todos são aceitos para o desempenho dela. Acredito que questões de mérito e capacidade são avaliadas pelos Espíritos responsáveis pelas reencarnações daqueles que desempenharão determinada tarefa.
Na pergunta 573, Kardec indaga:
Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?
“Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. As missões, porém, são mais ou menos gerais e importantes. O que cultiva a terra desempenha tão nobre missão, como o que governa, ou o que instrui. Tudo em a Natureza se encadeia. Ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, concorre, dessa forma, para a execução dos desígnios da Providência. Cada um tem neste mundo a sua missão, porque todos podem ter alguma utilidade.” [12]
Tem muitas informações nesta resposta. Cabe-nos instruir os homens, através de nossa experiência, a fim de lhes ajudar a progredir. Compete-nos melhorar as instituições humanas, por meios diretos e materiais. Onde nos encontremos, no local de trabalho, num templo religioso, num clube em que sejamos sócios, num partido político... Devemos concorrer para a melhora deste ambiente, torná-los locais onde o ser humano seja valorizado e promovido em todas as suas capacidades. O agricultor e o governante, para os Espíritos Superiores, desempenham nobres missões. Devem ser valorizados nos locais onde se encontrem. Os Espíritos não fazem distinções sociais, tão ao gosto dos nossos preconceitos materialistas. Enxergam dignidade na tarefa do lavrador, como na do que manda em multidões. É certo que os efeitos das atitudes dos governantes são mais amplos do que a do cultivador do solo. Pode ser maior neste aspecto, mas ambas são cartas de serviço confiadas pela Providência a fim de que eles cresçam e desenvolvam-se. “Diante da Lei, todas as tarefas do Bem são missões de caráter divino” [13], como afirma Emmanuel. Deus, ainda segundo ele, é o Grande Anônimo, que trabalha por nós, provendo-nos a vida. Emmanuel, aliás, tem uma frase lapidar: “É indispensável que o Espírito aprenda a ser grande nas tarefas humildes, para que saiba ser humilde nas grandes tarefas.” [14]
Na questão 574 Kardec pergunta qual seria a missão das pessoas voluntariamente inúteis. Os Espíritos respondem que estas unicamente para si vivem, e que não sabem tornarem-se úteis para os demais. Expiarão a voluntária inutilidade, muitas vezes já neste mundo, pelo desgosto e aborrecimento que a vida lhes causa. Os preguiçosos encarnados não são senão os preguiçosos do mundo espiritual, que às vezes podem ter recuado diante da execução de uma obra que lhes fora confiada ou aqueles que cedem, porque se identificam, às sugestões pela ociosidade, por parte de Espíritos inferiores.
Por fim, na pergunta 575 Kardec considera que as ocupações comuns parecem mais deveres que missões, sendo que estas teriam caráter menos exclusivo, de importância menos pessoal. Indaga, então, como se poderia reconhecer que um homem tem realmente na Terra uma determinada missão. Os Espíritos respondem-lhe: “Pelas grandes coisas que opera, pelos progressos a cuja realização conduz seus semelhantes.” [15] Seriam, portanto, Divaldo Franco, Chico Xavier, indivíduos portadores de missões, de acordo com essa idéia, uma vez que realizaram grandes trabalhos em benefício da coletividade, através do Espiritismo. Vidas de renuncia, onde abrem mão de projetos de satisfação egoística em detrimento da satisfação que se consegue quando se consegue criar o sorriso no rosto de alguém.
[1] XAVIER, Francisco Cândido. Libertação. FEB. Rio de Janeiro, 1996, p. 79.
[2] KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. FEB. Rio de Janeiro, 1995, p. 284.
[3] Idem.
[4] XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. FEB, Rio de Janeiro, 1995, p. 138.
[5] Idem, p. 144.
[6] KARDEC, Allan. Op. cit., p.284.
[7] Idem.
[8] XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. FEB, Rio de Janeiro, 1997, p. 68.
[9] Idem, p. 71 a 73.
[10] KARDEC, Allan. Op. Cit., p. 285.
[11] HODEN, Humberto. Mahatma Gandhi. Martin Claret, 1998, p. 132.
[12] KARDEC, Allan. Op. Cit., p. 285.
[13] XAVIER, Francisco Cândido. Justiça Divina. FEB, Rio de Janeiro, 1997, p. 56.
[14] XAVIER, Francisco Cândido. Justiça Divina. FEB, Rio de Janeiro, 1997, p. 110.
[15] KARDEC, Allan. Op. Cit., p. 286.