Os anos correm pela esteira do tempo... Os que julgávamos incapazes de modificações transmutamos. Estamos construindo-nos incessantemente. "Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante..." Já disse o filósofo Raul Seixas. Há alguns anos atrás, eu gostava muito de Carnaval. Sim, Carnaval! Mas nada tão demais. Apenas ia, com meus pais, na Av. Rio Branco, na época que o Carnaval de rua quase morreu. Gostava de observar as pessoas, as fantasias, estar naquele meio. Neste ano, depois de pelo menos 10 anos, retornei com minha mãe apenas. Que meu pai não nos tenha acompanhado espiritualmente. Já não tenho a menor identificação com a festa. Me senti, como da última vez que fui, há 10 anos, um peixe fora d'água. Os valores são outros. Mudei. Cansou-me a alegria artificial, alimentada pelos litros de bebidas alcoólicas. Nunca ví uma rua tão suja quanto a Av. Rio Branco naquele sábado de Carnaval deste ano. Brigas surgindo de lado a lado. Ladrões, discutindo, sem receio, seus sucessos e fracassos com relação aos ganhos da noite. Carros de Polícia com pessoas detidas. Tudo que o Carnaval da TV, e dos meios de comunicação, em geral, não mostram. Acho que na quarta-feira de cinzas lí, no jornal O Dia que, no último dia de "festa", houve tiroteio no local onde estive com minha mãe, no sábado e na segunda de Carnaval. Ela estava saudosa por ir acompanhar pouco da festa, ainda que não admitisse. Por isso fomos. Para não voltar.
O que fizeram da alegria? Eu recuso esta alegria, que se assenta no vício, no desperdício, na falta de respeito... Me recuso à alegria debochada, desrespeitosa. Sim, sei que são pessoas sofridas, que é uma catarse coletiva... Mas recuso. Trabalho em outra seara...
As festas juninas... O tempo que dançava "quadrilha" nas festas escolares. As músicas alegres, algumas sim, com alguma malícia, mas sem agressividade. As comidas sensacionais. O raro frio que se pode sentir na escaldante Cidade Maravilhosa, que neste verão desatualizou a música de Fernanda Abreu... Rio 50º, não mais 40º! As noites frias de Outono/Inverno! A luminosidade suave do Sol. O seu calor macio. E as festas juninas! Festas que começam, as vezes, em Maio e costumam ir até Agosto! Juninas no nome! Que bom que duram tanto... Mas quê? Elas estão mudando também. Em alguns lugares, campeonatos de "quadrilhas", com roupas luxuosas, que parecem debochar daquelas que eu usava na escola, remendadas, desproporcionais, quase um Jeca Tatu. E as músicas? Cadê Luiz Gonzaga? Cadê as músicas que todos os que gostamos das festas juninas temos na mente? Com todo o respeito ao funk, ao pagode e a outros gêneros, eu quero ouvir música de festa junina, ora bolas! Ainda assim, digo-lhes que hoje as festas juninas me sensibilizam muito mais. Apesar de tudo! Mas na cidade, elas estão mudando também. Nós estamos mudando. A tradição se reinventa, se modifica, como as pessoas que as formulam.
Para aqueles que vivem a festa junina do jeito que eu pensei (é, vocês entenderam sim!), aproveitem por mim, que já não encontro quase nenhuma festa Junina por aqui. A única que fui, este ano, diminuiu até a quantidade do prato de angú que eu gosto de saborear. E não tocou música de festa Junina enquanto estive. Por isso, fiquei menos de uma hora.
Espero que, como o Carnaval de rua retomou nestes últimos anos, as Festas Juninas de rua retomem, ainda que diferentes das que eu gosto.
Salve Mestre Lua, Gonzagão!