Todo mundo apóia? Foi assim com o fascismo e Mussolini: mata, esfola, tortura, executa na hora; eles merecem, são todos bandidos. Pouco depois, na Alemanha, Hitler, os nazistas e a Gestapo, perseguiram de forma mais explícita a mesma missão histórica: eliminar os fracos, os perdedores, os safados, os incapazes, os criminosos, que só prejudicam o desenvolvimento da espécie humana. Até que suas derrotas militares se mostrassem inevitáveis, os líderes e os policiais fascistas e nazistas eram aclamados pela maioria da população de seus países.
O comportamento das polícias e o apoio da população não variam muito no tempo e no espaço. Talvez, na Suécia... Quem sabe, na Islândia... Nem vamos falar de certos países... Pensemos apenas no chamado “mundo civilizado”. Esse mundo nunca foi nenhuma maravilha, mas piorou. No último número do Jornal do GTNM-RJ, Gustavo Borchert apresentou-nos uma amostra da civilização norte-americana. Na maioria dos países da civilizadíssima União Européia, rolam mais ou menos as mesmas leis e procedimentos judiciais de exceção.
O apogeu da violência está diretamente vinculado a interesses econômicos, ao desenvolvimento do Estado e do capital. Desde o século XIX, Karl Marx e outros pensadores, Baudelaire e outros poetas destacaram a violência incontornável e irrefreável de um sistema social fundado na generalização do trabalho assalariado e na razão instrumental. Talvez o erro de Prometeu tenha sido maior do que Júpiter imaginou: o modo de vida ao qual chegamos é totalmente incompatível com a dignidade humana.
Os principais setores da economia global são o lazer, as armas e as drogas. Difícil dizer qual o mais indigno dos três, mas os dois últimos são mais facilmente associados à violência. O último, além de crescer rapidamente, ajuda diretamente o crescimento dos outros e de toda a economia de mercado. E mais, muito mais importante ainda: ele mobiliza a maioria da população a favor da violência, de mais violência, de toda violência possível.
O montão de grana que rola com as drogas não pode estar guardado em fundos de quintal ou em contas secretas de um fernandinho qualquer. Só quem pode fazer rolar tanta grana é o sistema financeiro internacional, quer dizer, o Estado e o grande capital. Mas os humanos aplaudem quando o Estado alinha suas tropas e forma tropas de elite que matam e torturam sistematicamente. No circo moderno, quando o Lula ou o Cabral de plantão abaixam seus polegares, os humanos aplaudem. Dizem que são contra a tortura, mas têm medo, têm raiva e não vêem outra solução.
Não, nem todo mundo apóia isso. Alguns humanos somos contra tudo isso. Somos contra o sistema social que generalizou o trabalho assalariado, a droga e a violência. Não aceitamos nenhuma justificativa para a tortura. Lutamos em defesa dos direitos humanos e, ao mesmo tempo, contra os crimes e o sistema social criminoso que os humanos criaram. Achamos que estas lutas são uma só luta. E esperamos ter a coragem de nos mostrarmos numerosos.
Sérgio Silva
02 de novembro de 2007
Do site do Tortura Nunca Mais, para nossa reflexão: http://www.torturanuncamais-rj.org.br/sa/Artigos.asp?refresh=2008051118292211542066